17 DE OUTUBRO DE 2013
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O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Falamos de um diploma que preconiza um caminho distinto daquele que
consideramos ser o desejável para os setores da água e dos resíduos, não só porque consubstancia uma
reorganização que acontece sem que se encontrem revistos os principais documentos estratégicos do setor —
nem o Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos, nem tão-pouco os novos Estatutos da Entidade
Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos —, mas igualmente porque esquece as parcerias existentes
com os municípios, diminuindo a sua posição acionista, afastando-os do poder de participarem na gestão dos
temas multimunicipais de maior dimensão, acentuando-se inequivocamente a desresponsabilização
democrática pela prestação de serviços públicos de excelência e descurando o papel que sempre tiveram na
prossecução e na garantia de serviços essenciais universais, os quais só alcançaram elevados níveis de
atendimento e de eficiência graças às parcerias existentes e que estão agora em risco.
É uma peça legislativa só aparentemente inocente, que se esquece de cuidar do todo, do conjunto das
situações de natureza estrutural, operacional, económico-financeira e ambiental dos subsetores das águas e
resíduos, nomeadamente as inúmeras parcerias existentes com as autarquias locais.
É uma peça legislativa que em nada protege os consumidores portugueses e que prepara um novo quadro
legal para uma privatização a todo o custo destes serviços e bens públicos essenciais. Trata-se de um diploma
que esquece que o Estado deve fazer o que é útil, e nada do que este Decreto-Lei contém é útil.
Sr.as
e Srs. Deputados, a posição do Partido Socialista sempre foi a de criar todas as condições para
garantir a sustentabilidade dos sistemas, dentro do respeito do poder local e na lógica da defesa do
consumidor, em detrimento da criação de condições para a sua privatização, alfa e ómega da política deste
Governo.
Defendemos, por isso, a cessação da vigência do Decreto-Lei n.º 92/2013, de 11 de julho.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Mário
Magalhães.
O Sr. Mário Magalhães (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As apreciações parlamentares do
decreto-lei que define o regime de exploração e gestão dos serviços do setor das águas merecem-nos duas
notas.
A primeira nota refere-se aos graves problemas do setor. O setor tem sistemas com défices acumulados; o
setor tem assimetrias tarifárias gritantes entre o litoral e o interior; o setor tem sistemas sem sustentabilidade
e, outros, à beira da rotura financeira.
Protestos da Deputada do PCP Paula Santos.
Já sei, Sr.ª Deputada, que para o Partido Comunista nada disto é um problema! O problema é reorganizar o
setor. Criar novos sistemas que assentem num maior equilíbrio entre os tarifários do litoral e do interior é um
problema. Para o Partido Comunista tudo é um problema, pois consegue ver aquilo que ninguém viu, que é a
intenção do aumento do custo da água. Mas desde quando reestruturar é aumentar o custo da água?
A reorganização do setor e a criação de sistemas sem défices tarifários, mais sólidos e eficientes,
mantendo-os de natureza pública, para o Partido Socialista é um problema. Pergunto: mas porquê? Onde está
o problema? Corrigir o que está errado é um problema? Mas desde quando?
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Mas não é corrigir o que está errado!
O Sr. Mário Magalhães (PSD): — Para o Partido Comunista reestruturar é um passo para a privatização
da água. Mas desde quando?
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Está lá escrito!