I SÉRIE — NÚMERO 13
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tal como está organizada, pressupõe um somatório de declarações de que o Governo tomará boa ou má nota
em função de as mesmas se encaixarem, ou não, na estratégia do Governo.
Assim sendo, gostaria de transmitir qual é a posição do Partido Socialista em relação ao momento que se
vive na Europa.
Quero dizer, em primeiro lugar, que a Europa, mais uma vez, tem uma agenda para o seu principal
Conselho completamente desligada da realidade por que passam os europeus. Isto é, não digo que algumas
das matérias não tenham implicação e consequência na vida dos cidadãos, o que digo, e repito, é que, hoje,
os cidadãos deviam olhar para a Europa e estar a assistir a uma discussão séria sobre quais os mecanismos,
as políticas e as decisões que a União Europeia deveria tomar para fazer a sua parte no combate à crise.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. António José Seguro (PS): — O problema que existe de desemprego e de pobreza não é apenas
um problema dos Estados sob assistência financeira, é um problema da própria Europa. É um problema real
mas também um problema filosófico, naquilo que corresponde aos princípios matriciais desta mesma Europa,
ou seja, que a ação em conjunto é muito mais eficaz do que o somatório das partes.
Esta crise começou há cerca de cinco anos fora da Europa. Hoje, é não apenas uma crise instalada na
Europa como é também uma crise da própria Europa. Hoje, em vésperas de mais um Conselho Europeu,
deveríamos estar a olhar para uma agenda que respondesse a questões tão concretas como estas: como
relançar a economia na Europa? Como ajudar as empresas a investir? E como apoiar os Estados-membros
europeus que estão em dificuldades? Olhamos para a agenda, olhamos para a proposta de conclusões desse
Conselho e sobre isso não há rigorosamente nada!
O Partido Socialista tem uma visão distinta da do Governo, quer quanto ao aprofundamento político e
económico da União Europeia, quer no que diz respeito à necessidade que existe, do nosso ponto de vista, de
completar e equilibrar a União Económica e Monetária, quer quanto à necessidade de a União Europeia adotar
a sua quota-parte de responsabilidade no combate à crise e de assumir também as suas responsabilidades no
que diz respeito aos mecanismos que decretou e que seriam suficientes e eficazes para combater essa crise.
Não podemos ignorar que dois terços da composição da troica são europeus, provenientes do Banco
Central Europeu e da Comissão Europeia. Desse ponto de vista, é fundamental que a Europa decida coisas
tão simples como estas: quer a Europa continuar com o único banco central do mundo que está impedido de
emitir moeda? Quer a Europa combater esta crise sem ter, pelo menos, a possibilidade não de alterar os
tratados mas, sim, de atribuir uma licença bancária ao mecanismo europeu para poder ajudar, nem que seja
por um período curto, os Estados-membros em dificuldades?
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. António José Seguro (PS): — Dou um exemplo: os bancos portugueses comerciais financiam-se no
Banco Central Europeu a taxas de juro de 1% e compram dívida pública portuguesa a taxas de juro de 3%,
4%, 5% e mais. O que se propõe, com a atribuição dessa licença bancária ao mecanismo europeu, é que esse
mecanismo se possa financiar no Banco Central Europeu, tal como se financiam os bancos comerciais, e,
dessa forma, que países como Portugal possam beneficiar de financiamento a juros mais baixos. Isto teria
várias vantagens, uma delas diminuir o nosso défice, porque o serviço da dívida, este ano, está em níveis
superiores a 7000 milhões de euros, e o mesmo vai ocorrer no mesmo ano. Se tivéssemos essa possibilidade,
haveria um efeito de corte no nosso défice superior a, pelo menos, dois pontos percentuais, o que faria com
que não fossem necessários tantos impostos sobre os portugueses e tantos cortes sobre as pensões.
Outra proposta concreta tem a ver com o perfil da nossa dívida. Sei que o Primeiro-Ministro não gosta de
ouvir isto e que, muitas vezes, confunde a discordância com a ausência de defesa dos interesses do País. Não
o acompanho também aí. Devemos afirmar as nossas discordâncias em público e com clareza para que os
portugueses possam fazer as suas opções.
Há muito tempo que o Partido Socialista defende a mutualização de uma parte das dívidas soberanas.
Fazemo-lo não para passar encargos para os europeus, nem para dizer aos europeus «paguem lá parte da
nossa dívida». Não, fazemo-lo porque numa Europa solidária, e como uma união económica e monetária deve