24 DE OUTUBRO DE 2013
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funcionar, todos nos devíamos responsabilizar por uma parte dessa dívida. O ideal era que fossem os
primeiros 60% dessa dívida, mas sabemos que isso já não é possível e que, do ponto de vista pragmático, na
Alemanha é muito mais interessante fazê-lo através daquilo que designaram como fundo de redenção, que
permitisse precisamente mutualizar a dívida soberana de todos os Estados que estejam nessas condições,
acima dos 60%. Isso permitiria, através dessa mutualização, a redução dos nossos encargos com essa parte
da dívida, mas também podermos ir a mercados de forma independente, sem programas, sem
condicionalidades, para nos financiarmos em 60% da dívida soberana.
São propostas destas, sustentáveis, fundamentadas e estudadas que hoje a Europa deveria estar a
discutir.
É esta, e continua a ser esta, a posição do Partido Socialista.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PCP.
Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, tem a palavra.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: A agenda do
Conselho Europeu insiste na mesma linha de sempre — ignorar a dura realidade de milhões de pessoas e dar
os passos necessários para continuar a encher os cofres ao grande capital e à grande finança. Não nos
surpreende.
Mais uma vez se avança no aprofundamento do mercado único, no caminho das privatizações dos serviços
públicos, seja nas medidas que garantem a estabilidade e o lucro do capital e a instabilidade e pobreza dos
trabalhadores, seja nas medidas, que mais uma vez se prosseguem em toda a linha, que visam esmagar
ainda mais a soberania dos Estados, continuar a sugar os seus recursos e transformá-los em colónias do
século XXI, comandados pelo grande capital e pelo diretório de potências.
Falando de ataques à soberania, queremos expressar-lhe o nosso profundo repúdio pelo conteúdo do
relatório interno da Comissão Europeia, que, na sequência de inaceitáveis afirmações de ingerência do
Presidente da Comissão Europeia, tem o seguinte título: Irá o Tribunal Constitucional pôr em risco a
implementação do Memorando de Entendimento? Veja-se onde chegámos! Isto é um verdadeiro insulto aos
portugueses, um espezinhar da nossa independência e soberania, uma pressão e um ataque direto a um
órgão de soberania. E que diz o Governo português? Nada, absolutamente nada!
Já agora, que falamos de silêncios, como devemos interpretar o silêncio do Governo português perante as
afirmações da Sr.ª Merkel, que vem agora propor uma revisão dos tratados no quadro da discussão do
chamado «reforço da UEM»? Quer isto dizer que está de acordo com a possibilidade de se avançar na via do
estabelecimento dos denominados «contratos para a competitividade e crescimento» que obrigam Portugal a
cumprir o que as troicas considerarem importante para o ajustamento estrutural e para a melhoria da
competitividade do País — encerramentos, privatizações de serviços públicos, cortes em salários e pensões?
É isso, Sr. Primeiro-Ministro? É esse o caminho que andam a engendrar para nos condenarem a uma
dependência perpétua de um novo contrato de submissão, chame-se lá como se vier a chamar tal
instrumento?
O Conselho Europeu repete a mesma ladainha do crescimento, da competitividade e do emprego e salpica
as suas conclusões com decisões essencialmente de propaganda, como é o caso do desemprego juvenil, que
é trazido para a proposta de conclusões com pompa e circunstância, depois de o Conselho ter aprovado
cortes do já de si magro Orçamento da União Europeia, nomeadamente em fundos de coesão que poderiam
servir para atenuar esse flagelo.
Mas, como nunca nos limitamos a denunciar o desemprego juvenil, defenda, Sr. Primeiro-Ministro, defenda
neste Conselho o aumento das verbas do programa para, pelo menos, 21 000 milhões ao longo do período
2014/2020. E veja lá que a proposta nem sequer é nossa, é da Organização Internacional do Trabalho, que
refere que só assim o programa teria algum impacto real na criação de empregos, com direitos e com salários
justos.
Sr. Primeiro-Ministro, deixo-lhe outra proposta: pronuncie-se contra, impeça a ideia de o programa financiar
estágios não remunerados, de fazer despedimentos com a substituição de trabalhadores com contratos