1 DE NOVEMBRO DE 2013
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o senhor dizia há pouco que, quem
obstinadamente se recusa a reconhecer os erros do passado, está condenado a repeti-los.
Sr. Primeiro-Ministro, eu diria que assim se compreende melhor este Orçamento e esta vossa insistência
em repetir a mesma política de desastre nacional.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É o caso da opção pela razia no investimento e pela venda ao desbarato de
empresas e setores públicos. Com os cortes no investimento público e a insistência no programa de
privatizações, o Governo liquida as possibilidades de o Estado intervir para a recuperação e o crescimento
económicos e o desenvolvimento do País, entregando, no entanto, de mão beijada ao capital o património e as
empresas que são de todos os portugueses e que deviam estar ao serviço do País.
O Orçamento do Estado prevê um corte de 1000 milhões de euros no investimento público, em cima dos
cortes que já vêm de trás, com tudo o que isso implica de desemprego e recessão, mas também de
condenação do País ao atraso e à dependência, um corte no investimento que se irá traduzir na incapacidade
de manter ou recuperar setores produtivos, na incapacidade produtiva do País para satisfazer as suas
necessidades e desenvolver-se.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — O investimento público, a preços correntes, tem hoje níveis inferiores aos de
1995, aos de há 18 anos, altura em que representava 4,2% do PIB. Hoje, representa 1,9% do PIB. A queda,
desde 2011, a preços correntes, foi praticamente de um terço. Com este Governo, o investimento tem um
papel residual, com um prejuízo incalculável para o País e que levará anos a ser reparado.
Os senhores dizem que este é um Orçamento de esperança. Mas faltou acrescentar: Orçamento de
esperança para quem, Sr. Primeiro-Ministro?
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para os grupos económicos, que se preparam para comprar setores
estratégicos da nossa economia a preços de sucata? Para aqueles que já se movimentam para o negócio
milionário da privatização dos correios na Bolsa de Valores…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … ou para a entrega dos transportes públicos aos interesses privados? Aí, sim
senhor, Sr. Primeiro-Ministro, pode falar de um Orçamento de esperança! Pode falar até de festa e
abundância! Pode falar até de milagre económico!
Mas não é assim para os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo —…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … unidade industrial estratégica da construção naval no nosso País —, aos
quais os senhores negam um futuro.
Não é assim para quem trabalha ou para quem trabalhou uma vida inteira nas empresas de transportes e
comunicações, confrontados com um autêntico roubo à traição, verdadeiramente inqualificável, a abrir
caminho à privatização dos serviços.
Para a imensa maioria do povo português, Sr. Primeiro-Ministro, este não é um Orçamento de esperança,
é, sim, uma declaração de guerra. Não se admire, portanto, de encontrar a resposta todos os dias nas ruas,
nas empresas e nos locais de trabalho deste País, como já hoje está a acontecer e vai continuar a acontecer e
a aprofundar-se, à declaração de guerra que os senhores estão a fazer.