I SÉRIE — NÚMERO 16
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confrontado com as consequências das suas políticas, foi forçado a admitir uma recessão bem mais elevada.
Mas, entretanto, já tinha usado o seu fantasioso cenário macroeconómico, para justificar a continuação de
uma política que não serve os interesses do País.
Hoje, o Governo repete a encenação. Usa um cenário macroeconómico otimista para tentar fazer crer aos
portugueses que já há uma luz ao fundo do túnel, esperando, deste modo, tornar menos insuportável a
austeridade com que esmaga os trabalhadores, os reformados, as famílias e as micro e pequenas empresas.
Mas ainda que se verificasse um crescimento económico, esse crescimento sempre seria anémico —
mesmo nas previsões otimistas do Governo — e não se traduziria nem em mais emprego, nem num acréscimo
da qualidade de vida dos trabalhadores, já que é acompanhado de duríssimas medidas de redução dos
rendimentos e dos direitos desses mesmos trabalhadores. Num quadro de aprofundamento do desequilíbrio
na distribuição de riqueza entre o trabalho e o capital — a favor deste último —, um crescimento do PIB
continuaria a reverter a favor do capital.
O sucessivo incumprimento dos objetivos de consolidação orçamental — a redução do défice orçamental e
da dívida pública —, quase que elevados pelo Memorando da troica a desígnio nacional, é usado pelo
Governo como um pretexto para ir impondo, ano após ano, uma política de saque dos rendimentos do povo
português.
Depois de 20 000 milhões de euros de medidas de austeridade dirigidas contra os trabalhadores e os
portugueses em geral, o défice orçamental não diminuiu significativamente e a dívida pública aumentou.
Usando a redução do défice e da dívida como pretexto, o Governo prepara-se para prolongar as medidas de
austeridade para além da conclusão do Memorando da troica, em julho do próximo ano. Chamando-lhe
«programa cautelar» ou «segundo resgate», o que o Governo pretende é aprofundar o processo de
reconfiguração do Estado, moldando-o à medida dos interesses e dos desejos da banca e dos grandes grupos
económicos, à custa dos direitos e rendimentos dos trabalhadores e do povo.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo: Rejeitando a opção do
Governo e da troica de tirar aos trabalhadores e ao povo para dar à banca e aos grandes grupos económicos,
o PCP irá propor, na discussão na especialidade do Orçamento do Estado, um conjunto de propostas, das
quais destacamos a renegociação da dívida, a suspensão e extinção das parcerias público-privadas e a
anulação dos contratos swap.
Destacamos, pela sua importância, a proposta que apresentamos para a renegociação da dívida. O PCP
proporá um regime de renegociação da dívida pública que estabeleça um limite máximo para o pagamento de
juros da dívida pública em 2014, correspondente a 2,5% do valor das exportações de bens e serviços. Esta
proposta, que se traduz numa redução da despesa superior a 5600 milhões de euros, assegura ainda que é
paga a componente legítima da dívida pública sem empobrecer os portugueses e sem afundar a economia
nacional.
O próprio Governo reconhece, na proposta do Orçamento do Estado, que em 2014, sem renegociação, a
dívida pública continuará a aumentar em termos nominais. O Memorando da troica, na sua versão inicial,
previa que a dívida atingisse os 109% do PIB, em 2013. Na realidade, já ultrapassou os 130%. Com as
políticas da troica, a dívida pública, em vez de diminuir, aumentou!
A proposta do PCP, formulada em abril de 2011, de renegociação da dívida, em alternativa ao Memorando
da troica, mereceu a rejeição do PS, PSD e CDS, que a consideraram irrealista e até mesmo irresponsável.
Dois anos e meio depois, a necessidade de renegociação da dívida tornou-se um imperativo nacional,
admitido por setores cada vez mais amplos da sociedade portuguesa, mesmo por alguns daqueles que na
altura a criticaram.
Apresentaremos também uma proposta de redução dos encargos com as parcerias público-privadas,
transferindo para as entidades concessionárias apenas as receitas obtidas com a exploração e assegurando,
excecionalmente, os recursos adicionais necessários à prestação dos serviços e à manutenção dos postos de
trabalho quando aquelas receitas não forem suficientes. Esta proposta, que permite obter já em 2014 uma
redução significativa das despesas do Estado, deverá ser acompanhada de um processo de extinção das
parcerias público-privadas e a sua consequente reversão para o Estado.
Proporemos, por fim, a anulação dos contratos swap ainda existentes entre empresas públicas e o Banco
Santander, recusando que os impostos dos portugueses ou o endividamento do Estado continuem a pagar a
especulação e apontando uma poupança máxima de cerca de 1225 milhões de euros.