I SÉRIE — NÚMERO 31
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional,
ouvimo-lo atentamente declarar as preocupações que o movem: a descentralização dos serviços; a
proximidade aos cidadãos; o cidadão no centro das preocupações do Governo. E tudo isso nos leva a uma
pergunta: como é que, encerrando serviços públicos, assegura esses objetivos?
Por exemplo, como é que descentraliza o acesso aos serviços públicos, quando em Beja encerra 85% das
repartições de finanças, em Évora 78% e em Viseu 70%?
E por esse País fora, em regiões que já são afetadas muitas vezes pelo abandono, pela desertificação e
pelo encerramento de outros serviços públicos, como é que assegura a proximidade, encerrando os serviços
públicos, neste caso as repartições de finanças? E como é que assegura a descentralização? É substituindo
serviços públicos por um sítio de Internet muito moderno, que o Sr. Ministro, certamente, depois, apregoará ou
é privatizando os serviços prestados pelo Estado?
Sr. Ministro, quem tem aqui um discurso marcadamente ideológico, mas escondido — o PCP não esconde
a componente ideológica do seu discurso — é o seu Governo, que o esconde, certamente por ter vergonha da
componente ideológica desse discurso.
O PCP assume que defende os serviços públicos e que o faz também por motivos ideológicos,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … porque considera que é a melhor forma de assegurar a defesa das
populações, mas o seu Governo não o diz e esconde a ideologia por detrás dessa perspetiva de que só o que
é privado é que é bom e de que tudo o que é público deve encerrar. Essa é a ideologia neoliberal de colocar o
Estado ao serviço dos grandes grupos económicos, de o fechar para os portugueses, de o fechar no interior,
de o fechar nas vilas e nas aldeias e de o colocar inteiramente ao serviço daqueles que lucram com a pobreza.
Num momento em que o saque fiscal dirigido aos portugueses é uma componente importante do conjunto
de fatores que levam os portugueses ao empobrecimento, num momento em que os serviços públicos se
degradam, o Governo apresenta o encerramento das repartições de finanças como uma espetacular solução.
Sr. Ministro, no dia em que os próprios trabalhadores dos impostos realizam uma greve — certamente hoje
o Sr. Ministro já estará preocupado com o encerramento dos serviços, mas é só hoje, passa-lhe depois,
quando os encerrar definitivamente; hoje, que há greve, é que é mau —, impõe-se também fazer uma
pergunta, até porque essa greve converge com os interesses dos cidadãos. A pergunta é a seguinte: quais
serão os custos desta política para os trabalhadores e para as populações?
Estamos certos de que os trabalhadores e as populações, ainda antes de mais esses custos recaírem
sobre eles, terão condições, através da sua luta, para derrubarem este Governo e construírem uma política
alternativa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional.
O Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional: — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, o Governo
levou muito a sério este debate e, por isso, fez-se nele representar por vários Secretários de Estado, cobrindo
várias áreas de funções sociais do Estado. Infelizmente, o que «faltou à chamada» foram as perguntas dos
Srs. Deputados da oposição.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional: — É que não ouvi ser feita nenhuma pergunta
sobre as funções sociais do Estado nem sobre problemas concretos necessitando resolução.
O Sr. António Braga (PS): — Isso é arrogância!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Nós fazemo-las, o Sr. Ministro é que não responde!