18 DE JANEIRO DE 2014
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os meios que lhe foram disponibilizados, conseguia gerar confiança suficiente para dispensar, no futuro, o
financiamento oficial ou isso não aconteceria e nós teríamos de solicitar ajuda externa uma segunda vez.
Independentemente do cenário que pudesse desenvolver-se e que desembocasse numa situação dessas
— fosse por responsabilidade do Governo por incumprimento das suas obrigações, fosse por circunstâncias
externas particularmente adversas que impedissem que, apesar de fazer tudo bem, Portugal não conseguisse
regressar a mercado —, essa circunstância seria muito penalizadora para todos os portugueses e para o País.
Não é isso que, tudo leva crer, nos irá acontecer.
Todos os dados de que dispomos confirmam, em primeiro lugar, que temos vindo a aproximar-nos do
equilíbrio externo, não necessitando, portanto, de acrescentar financiamento externo à economia portuguesa
— ela não continuou a endividar-se, deixou de se endividar; e, em segundo lugar, o alcance das metas que
foram definidas quer para a reforma estrutural quer para o equilíbrio orçamental, para o qual temos de
caminhar a médio prazo, tem vindo a decorrer nos termos acordados com os nossos credores oficiais.
Sendo assim, estou convencido de que, tendo o mercado secundário vindo a exibir, em todos os países
periféricos, uma evolução extremamente positiva, ela só é positiva no caso de Portugal porque não há
qualquer razão que leve os investidores externos a suporem que a história vai acabar mal em Portugal. Se
houvesse essa perspetiva, Portugal não beneficiaria desse apetite que os investidores têm vindo a demonstrar
pela dívida pública nos países periféricos.
Por isso, Sr. Deputado, o que referiu a propósito do sentimento que se gera na sociedade portuguesa em
torno destes resultados é absolutamente correto e corresponde à visão que o Governo tem. Nós sabemos que
entre o momento em que a economia inflete a sua tendência recessiva — e a nossa já infletiu, há alguns
trimestres, a tendência recessiva — e o momento em que se geram efetivas oportunidades que as pessoas
percecionem como tocando o seu caso particular, como uma expectativa de emprego, no caso de um
desempregado, ou uma expetativa de conseguir recuperar a sua empresa, no caso de um empresário e dos
seus trabalhadores, há um desfasamento temporal que é conhecido mas que, como é evidente, não apaga o
sentimento totalmente diferente que se respira na sociedade portuguesa em face desses resultados.
Claro que há, hoje, partidos da oposição que convivem mal com esta situação na medida em que
prognosticaram o desastre e, como o desastre não se está a concretizar, têm agora dificuldade em encontrar o
que dizer. Portanto, como aconteceu também com a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,…
Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
… fixam-se em aspetos que são incidentais, para criarem uma generalização de modo a que o País
pudesse aparecer como estando num estado de subdesenvolvimento,…
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sim, sim!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … dizia a Sr.ª Deputada, inaceitável, quando na verdade o que o Estado está a
fazer é a normalizar a sua vida perante os cidadãos, perante os seus financiadores, perante os seus
fornecedores. É exatamente ao contrário!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
De resto, e se o Sr. Deputado me permitir, porque não tive oportunidade de esclarecer a Sr.ª Deputada
quanto ao aspeto preciso que tinha que ver com a questão das bolsas, farei esse esclarecimento — creio que
o Sr. Deputado não leva a mal que o faça.
Gostaria de dizer à Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia duas coisas sobre a questão da ciência. Em primeiro
lugar, que Portugal não desinvestiu na ciência nos últimos anos, apesar da crise.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Como assim?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Nós mantivemos um nível de financiamento efetivo do sistema que está muito
em linha com aquele que se registou quer em 2009, quer em 2010. Não estamos a falar, evidentemente, de