I SÉRIE — NÚMERO 50
18
Precisamos ainda de ter muito rigor e disciplina orçamental, e não é só no próximo ano, é durante vários
anos. Isso está, de resto, muito para além daquele que é o mandato deste Governo. Se não tivermos disciplina
orçamental, rigor orçamental, então, não conseguiremos manter aquilo que é mais indispensável nas
avaliações de sustentabilidade da nossa dívida, referenciado por todos aqueles que medem a confiança e o
grau de credibilidade da nossa economia, e tido como essencial para o nosso progresso.
Para que a nossa economia possa progredir, o Estado tem de gastar menos. Portanto, ao contrário do que
diz o Sr. Deputado António José Seguro, não pode ser demagógico nem andar em propaganda. Tem de ter a
certeza que a despesa social cumpre a sua função social mas é financiável pela economia que temos, que o
emprego público é financiável pela economia que temos, e nós sabemos que a economia que temos nunca
crescerá o suficiente enquanto o Estado não tiver capacidade para aliviar o fardo fiscal que pesa sobre as
famílias e sobre as empresas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — E sobre as SGPS?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas o Estado só poderá aliviar esse fardo fiscal se conseguir gastar menos
nas políticas públicas.
É por isso que é importante conhecer o pensamento do principal partido da oposição, que é o partido
alternante em matéria de governo, sobre esta matéria.
É que se o desejo do Partido Socialista é o de vir a ser Governo tão rápido quanto possível — tem sido
esta a sua política oficial, de preferência já este ano; não pôde ser no ano passado, então, este ano, e, se não
puder ser este ano, para o ano, enfim, logo que possível —, o que é que fará da despesa pública? Vai
aumentá-la? A troco de quê? De mais impostos? Ou vai descer os impostos e, então, onde é que corta mais
na despesa pública? Não conhecemos uma linha de pensamento concreto do nosso partido alternante sobre
esta matéria. E isso é lamentável, Sr. Deputado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Mas nós esperamos que seja possível chegar um dia, antes das eleições europeias, em que estas matérias
possam ser conhecidas. Já agora antes das eleições europeias, é preciso saber o que é que o Partido
Socialista pensa sobre isto, se vai ou não pôr um numerozinho para o limite da despesa corrente primária que
é preciso obter, para que a trajetória da nossa dívida possa ser sustentável.
Sr. Deputado, esta é a razão por que o Governo não tem euforias. Sabemos que vai ser muito difícil
realizar o Orçamento do Estado para 2015, sabemos que vai ser muito difícil fazer o Orçamento do Estado
para 2016, sabemos que vai ser muito difícil conseguir absorver o desemprego que se gerou ao longo destes
anos, mas também sabemos que isso está ao nosso alcance e a trajetória que temos seguido mostra-nos que
a credibilidade na economia portuguesa está a chegar.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Concluo, indicando a trajetória das taxas de juro a 10 anos da dívida pública
portuguesa e os dados referentes ao dia de ontem.
Na taxa de juro a 10 anos, estávamos praticamente ao nível que se atingiu em Portugal quando o Governo
do Partido Socialista apresentou o primeiro PEC. Estamos, portanto, Sr. Deputado, a reverter um processo de
má memória. Sair deste primeiro PEC para voltar para níveis ainda mais baixos de taxas de juro, que serão
compatíveis com a nossa expectativa de crescimento nos próximos anos, é a nossa tarefa. Mas sabemos hoje
uma coisa: não é a com a receita que o Partido Socialista aplicou no País que o poderemos conseguir. Terá de
ser com outra receita e creio que estamos mais próximos de acertar nessa receita do que o Partido Socialista
esteve ao longo destes anos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta cabe ao PCP. Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.