I SÉRIE — NÚMERO 55
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O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para uma intervenção, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada
Catarina Marcelino.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Este debate não podia ser mais
oportuno no dia de hoje. Ontem, surgiu mais uma notícia acerca de um doente das Caldas da Rainha,
recusado em Lisboa, Loures e Leiria, que morreu em Abrantes. Isto, um mês depois do caso de Chaves, que
só encontrou resposta a 400 km de casa.
Há um problema e é preciso que a maioria e o Sr. Ministro da Saúde assumam que há um problema,
porque não são casos pontuais, são casos de pessoas reais, que podiam ser qualquer um ou qualquer uma de
nós.
Também gostava de recomendar aos Srs. Deputados da maioria que, sobre as urgências e a situação das
urgências, lessem a reportagem que saiu no Diário de Notícias, no fim de semana, que também refere o
Garcia de Orta, porque aquilo que verificaram, na reportagem que fizeram, foi exatamente o que os Deputados
do Partido Socialista viram no dia em que lá foram. Isto está escrito na reportagem.
Portanto, é bom que comecemos a olhar para a realidade e não nos prendamos só com números, porque a
realidade é o que é e só podemos melhorar as coisas quando assumimos que há problemas.
Quanto às iniciativas aqui em discussão, o Partido Socialista acompanha o tema e as preocupações quer
do Partido Comunista, quer do Bloco de Esquerda. Contudo, relativamente às respostas e às soluções
apresentadas, entendemos que têm algumas dificuldades, desde logo, porque os recursos que temos são
poucos e não permitem uma resposta em cada concelho e, depois, porque, por isso mesmo, é difícil que nos
serviços de urgência possamos ter duas equipas em simultâneo.
Contudo, o Partido Socialista defende que temos de reforçar as equipas das urgências dos hospitais, para
responder também aos casos classificados com fitas azuis e verdes, que têm, neste momento, muito tempo de
espera.
Mas também precisamos de reformar os serviços primários de saúde, discordando, neste caso, do PCP. É
preciso continuar a reforma que Correia de Campos começou, a qual era planeada e estava a ser feita
olhando para os recursos e o território, o que hoje não acontece, pois fecham-se serviços sem olhar a um
planeamento equilibrado.
Sr.as
e Srs. Deputados: Estamos a viver um momento de cortes orçamentais graves na saúde. Estamos
com uma percentagem de PIB na saúde abaixo da média europeia e da média da OCDE. Estamos a regredir
ao nível da década de 80, do século XX. É inadmissível, não é aceitável e não podemos tolerar uma situação
destas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel
Galriça Neto.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Debatemos hoje as
propostas do PCP e do Bloco de Esquerda sobre a reorganização dos serviços de urgência e dos serviços de
atendimento permanente.
Gostava de reforçar aqui que voltamos a falar da saúde, uma área em que, insistimos, não está tudo bem,
uma área em que há uma tarefa inacabada de melhoria e um dever para com os nossos concidadãos — um
dever que nunca acaba! — e em que, a bem da seriedade e da objetividade que nos é exigida, enquanto
legisladores e, de alguma forma, fiscalizadores da realidade, há que ir mais além da demagogia, da distorção
de casos que nos podem preocupar e que devem ser investigados, mas que são isso mesmo, casos que não
são um barómetro da realidade do Serviço Nacional de Saúde. Portanto, é preciso investigar e é preciso ser
rigoroso e não demagógico. Assim, é fácil tomar decisões.
O que, de facto, nos parece fundamental é que tem de se garantir o acesso dos cidadãos aos cuidados de
saúde, que são, para o CDS, um direito fundamental e que este ou qualquer outro Governo devem acautelar.
Para nós, é claríssimo que o atendimento não programado da doença aguda e da doença não emergente
é, em primeiro lugar, uma tarefa dos centros de saúde. Foi isto que disse, aliás, o Professor Correia de