I SÉRIE — NÚMERO 55
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Não ignoramos que existe uma geração que se está confrontando com o que aprendeu e que sente
algumas dificuldades nesta fase de transição. Este problema foi sentido por outras gerações, nomeadamente
as que viveram as reformas de 1911 e de 1945, com a agravante de não terem, na altura, os apoios
tecnológicos que hoje temos.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Carlos Enes (PS): — Não consta que tivessem ficado traumatizadas nem que tenha sido abalada a
sua matriz identitária.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Enes (PS): — Quem ler as obras de Aquilino Ribeiro ou Vitorino Nemésio, por exemplo,
apercebe-se perfeitamente da aprendizagem e adequação que foram fazendo às novas ortografias, ao longo
da sua vida.
Vou terminar já, Sr. Presidente, dizendo que este é um Acordo para o futuro, é um Acordo que não fere a
dignidade de Portugal, é um Acordo político que visa uma projeção mundial da língua portuguesa como um
meio de comunicação entre os povos sem que nenhum deles perca a sua especificidade linguística e a sua
identidade.
Como escreveu José Saramago, «É preciso cumprir o que foi assinado». Compete, pois, a este Governo
providenciar para que tal aconteça.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia, de Os Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, em
nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, queria saudar os peticionários subscritores da petição que agora
estamos a discutir, à qual foram agregados, para apreciação, projetos de resolução da autoria de diversos
grupos parlamentares.
Gostaria de reafirmar alguns dos princípios que Os Verdes defendem relativamente à língua portuguesa:
em primeiro lugar, que a dinâmica da língua não é algo estranho, é até, do nosso ponto de vista, desejável; em
segundo lugar, que a simplificação das regras da escrita constitui, na nossa perspetiva, uma forma de
democratização da língua portuguesa; em terceiro lugar, não somos por um conservadorismo da língua
portuguesa.
Contudo, estamos a falar de um Acordo Ortográfico em concreto, e um acordo ortográfico quer dizer
justamente isso — acordo, supostamente um acordo entre todos os países de língua oficial portuguesa. Ora,
se esse acordo não é conseguido entre todos deixa, na nossa perspetiva, de ter a função de acordo, como
seria desejável, e portanto, qualquer coisa terá de ser ponderada.
Sr.as
e Srs. Deputados, não restam dúvidas de que existem problemáticas sobre aquilo que está proposto
para entrar em vigor. Não restam, portanto, dúvidas, na nossa perspetiva, de que há algo a ponderar, de que
há algo a corrigir, e, por isso, Os Verdes votarão favoravelmente todos os projetos de resolução que pedem
justamente essa ponderação. Essa ponderação é fundamental, neste momento.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, para uma intervenção.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Àqueles que acham, e repetem
na opinião pública e na comunicação social, que o exercício do mandato dos Deputados é um exercício
sempre limitado e condicionado pelos diretórios partidários e pelas posições oficiais dos grupos parlamentares,
eu diria que a minha participação neste debate esta manhã — e já é a segunda vez que o faço — contraria um
bocado essa tese.