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I SÉRIE — NÚMERO 59

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amigo, eu vou ao banco, vou negociar um prazo melhor, vou negociar mais tempo para pagar a sua dívida,

vou negociar uma taxa de juro melhor» e se uma outra pessoa lhe disser: «Não, é muito simples: deixe-se ficar

em casa, pura e simplesmente, não faça transferência e deixe de pagar», quem é que a Sr.ª Deputada acha

que está do lado dele? É quem vai negociar com o banco! E quem é que acha que está contra? É quem diz,

pura e simplesmente, «Não pagamos!».

Portanto, para visões maniqueístas do mundo, também lhe podia dizer que o que está aqui em causa é,

simplesmente, a escolha entre o cumprimento e o calote.

Porém, acho que a questão é um bocadinho menos maniqueísta e menos simples do que isto. É uma

questão um pouco mais profunda.

Há, pois, algumas perguntas que vale a pena serem colocadas para percebermos se o caminho do puro e

simples incumprimento é o caminho do oásis que estão a tentar descrever, porque não me parece que seja.

O caminho que tem sido trilhado e que está a começar a dar resultados, esse caminho, devo dizer-lhe,

também não foi trilhado em nome do pagamento da dívida mas, sim, em nome da nossa absoluta

incapacidade de nos conseguirmos financiar, ou seja, de nos conseguirmos endividar mais e mais e ao ritmo a

que o tínhamos feito.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Pagamento da dívida!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Não tem nada a ver com o pagamento da dívida, tem a ver com a

falta de pessoas dispostas a emprestar-nos mais dinheiro ao mesmo ritmo a que nos vínhamos endividando

por causa, de certeza, de alguma coisa que estaria no passado,…

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Por causa da dívida!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … não de alguma coisa que viria no futuro.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa está boa!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Pergunto: partindo do princípio de que Portugal regressa aos

mercados em maio, que tipo de taxas de juro acha que teremos, se anunciarmos uma reestruturação? Acha

possível, acha viável que regressemos aos mercados? Acha que teremos capacidade de o fazer? Já não lhe

vou lembrar, pois tenho a certeza de que conhece, as palavras da Professora Teodora Cardoso, mas

perguntava-lhe se acha que é um caminho viável que um país que se vai financiar diga, pura e simplesmente,

«Emprestem-me mais dinheiro, mas já não vou pagar aquilo que devo». Pergunto-lhe, portanto, se lhe parece

um caminho viável.

Em segundo lugar, a médio e a longo prazos até posso perceber a defesa da reestruturação, ou da

renegociação, ou do que lhe queira chamar, mas é uma coisa que já todos percebemos é que é unilateral.

O Sr. João Galamba (PS): — É unilateral porquê?!

A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.

Pergunto como é possível defender isso e não defender que no dia a seguir vamos ter défice zero. Sr.ª

Deputada Mariana Mortágua, como é que se pode defender que não iremos pagar aquilo que devemos e

vamos, ainda assim, continuar a endividar-nos no futuro?

O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Essa é que é a grande pergunta a que os senhores não respondem.

Como é que nós, fazendo uma reestruturação, não vamos ter ainda mais austeridade do que a que temos

agora, por absoluta incapacidade de nos financiarmos?