I SÉRIE — NÚMERO 59
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PCP, que, aliás, durante algum tempo, caminhou sozinho ao defender a renegociação da dívida nos seus
prazos, montantes e juros como a solução para a situação em que o País se encontrava, como alternativa ao
pacto que foi lançado sobre os portugueses, de autêntico empobrecimento e, como, aliás, referiu, de
redistribuição da riqueza e reconfiguração do Estado — mais concentração no capital, rendas, lucros e juros;
menos remuneração do trabalho e um Estado cada vez mais ao serviço daqueles que menos impostos pagam
e cada vez mais contra aqueles que mais impostos pagam.
A questão da renegociação da dívida é hoje, como já o era em 2011, crucial e o PCP trouxe a debate esta
questão quando ainda muitos notáveis a ela não se associavam e quando até alguns brandiam e agitavam os
preconceitos contra os comunistas por falarem de renegociação da dívida. Aliás, alguns desses que agora
compreenderam que a trajetória não é sustentável e que Portugal está claramente no caminho da rutura,
rutura perante os portugueses e os compromissos constitucionais para com os portugueses e, mesmo, rutura
no que toca à sustentabilidade da dívida. Cada vez mais se torna evidente que a dívida está num rumo de
insustentabilidade.
A questão que se coloca neste momento é esta: Portugal continuará a sangrar 21 milhões de euros por dia,
como disse, 8000 milhões de euros por ano, em juros da dívida, de pura agiotagem, sem amortizar na dívida,
e fará os caprichos dos especuladores ou resgatará a soberania e a democracia, salvaguardará os direitos dos
portugueses, dos trabalhadores e renegociará os termos da dívida?
Mas, Sr.ª Deputada, coloca-se também aqui uma outra questão. Falou muito da renegociação da dívida,
mas é importante aprofundar também os termos em que o BE fala da reestruturação da dívida, principalmente
neste contexto em que surge um manifesto de outras pessoas que se juntam a esta necessidade e aos apelos
para a reestruturação da dívida. Algumas dessas considerações passam ao lado das componentes ilegítimas
da dívida, que não serão pequenas; passam ao lado da questão fundamental dos constrangimentos europeus
e até confiam numa eventual mutualização ou em soluções europeias, como se o capitalismo tratasse dos
seus próprios males.
Para nós, PCP, é também importante clarificar estas questões fundamentais para assegurar que o País
paga a dívida, expurgada das suas componentes ilegítimas mas de acordo com as suas capacidades reais,
porque o contrário é, de facto, o caminho do incumprimento. Do incumprimento para os portugueses e também
do incumprimento do pagamento da dívida. O que gostaria de lhe perguntar é se também o Bloco de Esquerda
encara a questão nestes termos.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para responder, a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, o tema da renegociação ou
reestruturação da dívida é um tema difícil. O Bloco de Esquerda já apresentou várias propostas a esta
Assembleia da República, com soluções específicas de reestruturação, aliás, votadas favoravelmente também
pelo próprio PCP.
Sabemos e reconhecemos que há uma parte da dívida que não é legítima: os submarinos são disso um
bom exemplo, as PPP, a especulação financeira, o BPN… Tudo isto são fluxos e criaram dívida que não é
legítimo que seja paga, e isto tem de ficar claro.
Mas também é importante perceber, neste momento crucial que o País atravessa, que ganhamos em gerar
consensos alargados sobre esta matéria. Ganhamos em juntar forças sobre esta matéria para enfrentar um
Governo que, ele sim, está cada vez mais isolado, é cada vez mais dogmático na sua posição. E, assumimos,
o caminho é difícil e é por ser difícil que precisamos de todas e de todos aqueles que quiserem juntar-se. O
contrário desta posição seria permanecer na posição facilitista dos partidos da direita e do próprio Governo,
que é a posição de quem fecha os olhos e segue em frente, na esperança de que alguma coisa mude no
futuro. É a posição de não enfrentar os problemas, de «empurrar com a barriga» e deixar que quem vier a
seguir resolva o problema da dívida pública. Essa não é solução para o País, não trará um País melhor no
futuro, não resolverá os problemas concretos da economia e das pessoas.
Gostaria apenas de deixar aqui uma nota aos silêncios desta Sala, nomeadamente ao desafio que foi feito
relativamente ao tratado orçamental, em particular também ao PS, que assinou o tratado orçamental, e de