I SÉRIE — NÚMERO 60
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Falam de emprego, de modernização do SNS, de retoma económica, de produção industrial e de
exportações, de garantia jovem e de acesso à educação e formação como quem fala de feijoada a alguém que
passa fome.
A resposta do Secretário de Estado da Saúde aos problemas dos doentes, que, de resto, acabámos de
ouvir, é particularmente ofensiva.
Há doentes sem cuidados de saúde e outros a serem tratados como se estivessem num país em guerra.
Há portugueses a morrer prematuramente por falta de cuidados de saúde, há doentes a quem são
colocadas toalhas e sacos do lixo, porque os cortes orçamentais não permitem que haja fraldas em alguns
hospitais.
Há doentes a quem são feitos drenos ou garrotes com luvas, porque não há material de uso clínico.
E o Secretário de Estado fala de indicadores estatísticos, de acesso mais fácil a preservativos e ofende os
doentes a quem é negado o direito à saúde e a quem continuam a faltar os cuidados a que têm direito.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
No final desta interpelação, não podemos deixar de registar que Governo e maioria não se atreveram a
desmentir nenhuma das situações que aqui trouxemos, mas não desistem de redizer que o País está melhor
do que em 2011 e que estamos no bom caminho.
Governo e maioria querem convencer-nos de que o País está melhor e de que todos devemos estar gratos
pelo que fizeram nos últimos três anos.
Querem convencer-nos de que valeu a pena toda a destruição económica e social, todos os dramas
individuais e coletivos, todas as desigualdades e injustiças aprofundadas.
Governo e maioria dizem que o País está melhor, dizem que as pessoas é que ainda não sentiram.
Falam de um país que não é feito de pessoas, falam do País dos três grandes grupos económicos que
arrecadaram, só em 2013, mais 2000 milhões de euros de lucros ou do País das SGPS, a quem, em 2012, o
Governo entregou 1045 milhões em benefícios fiscais escondidos das contas do Estado.
Falam do País que verdadeiramente servem, o País desses grandes interesses que concentraram riqueza
à custa dos sacrifícios do povo e da destruição do País nos últimos três anos.
Nesta interpelação, comprovou-se que a realidade é bem diferente daquilo que propagandeia o Governo.
Portugal está hoje pior do que em 2011, quando foi assinado pelas troicas o pacto de agressão, e este
Governo e a sua política não estão em condições de resolver os graves problemas nacionais.
Quando assumiram os seus mandatos perante esta Assembleia da República, diziam não querer fazer
ajustes de contas com o passado. Hoje, tudo é responsabilidade de quem governou para trás, mas não
querem que se lembre quem aprovou três PEC e um Orçamento do Estado ao Governo minoritário de José
Sócrates.
Vozes do PCP: — Bem lembrado!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Diziam querer resolver o endividamento do País que comprometia o futuro
das novas gerações. Hoje, não querem assumir responsabilidade por terem aumentado a dívida em 51 000
milhões.
Diziam não haver dinheiro para manter salários, pensões e prestações sociais, mas sabemos hoje que
continuaram a entregar milhares de milhões, em benefícios fiscais e juros, aos agiotas e especuladores.
Roubaram salários, pensões e direitos, dizendo que tudo era temporário. Hoje, é evidente que se preparam
para manter o roubo perpetuamente.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Qual roubo?!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ontem mesmo, o Primeiro-Ministro dizia que Portugal poderá pagar a dívida
e respeitar o limite de 60% do PIB, imposto pela União Europeia, desde que o saldo primário seja de 1,8%, a
inflação não seja superior a 1% e haja um crescimento real do PIB entre 1,5% e 2%, sem nunca se referir à
taxa de juro.