I SÉRIE — NÚMERO 65
22
O que verificamos, de facto, é que o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, em Portugal, aumentou, o
que significa claramente que há uma maioria onde se está a alastrar a pobreza e há uma minoria onde se está
a concentrar a riqueza, e isto não é normal face ao discurso que o Governo tem, mas já é normal face à
política que o Governo implementa.
De facto, é uma política que pega nos mais frágeis e os torna ainda mais frágeis, mas tem um grande,
grande, grande respeitinho por aqueles que, no País, têm muito dinheiro e esses não belisca. Isto é
extraordinariamente cruel, é de uma falta de ética social que julgo tem de ser amplamente denunciada.
Sr.as
e Srs. Deputados, o Governo procura permanentemente tapar os efeitos e a face real, digamos assim,
da sua política através de um discurso, procurando agradar ao País. Ainda hoje vimos o Sr. Ministro Mota
Soares fazer isso aqui, na Assembleia da República. Veio aqui, com um discurso escrito, enunciar um rol de
medidas que tinha tomado e que considerava que eram amplamente sociais, mas esqueceu-se de outro rol de
medidas muito mais pesado — esse não enunciou! — que deitam por terra todo o outro rol de medidas,
levando a que elas não tenham efeito absolutamente nenhum sobre o que é importante, ou seja, a
componente social do País.
Sr.as
e Srs. Deputados, consideramos, de facto, um escândalo esta questão da má distribuição da riqueza e
da má distribuição das preocupações no País e consideramos absolutamente inaceitável e incompreensível
que, face à política de baixos salários e à intenção do Governo de tornar os salários cada vez mais miseráveis
— como dissemos ali da tribuna, um salário de 600 euros, para este Governo já é um salário ótimo para ser
cortado —, venha o Governo admitir depois administrações como a do banco de fomento, onde
administradores ganham 13 000 euros por mês, que é um número que, para muitos portugueses, é
absolutamente inimaginável.
Face a estas circunstâncias, o Governo recusa-se a aumentar o salário mínimo nacional?! Sr.as
e Srs.
Deputados, esta história está muito mal contada mas, fundamentalmente, do que o País precisa é que este
Governo vá embora e que se abra espaço à manifestação e à criação de novas políticas que o possam
levantar.
A Sr.ª Presidente: — Conclui-se aqui a declaração política de Os Verdes e passamos à declaração política
do PSD.
Sr. Deputado Luís Montenegro, tem a palavra.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Portugal vive hoje um momento
de afirmação da sua recuperação económica e social.
Temos uma situação orçamental equilibrada, controlada.
Temos, desde o segundo trimestre de 2013 e depois de 10 trimestres de recessão, o País a crescer, do
ponto de vista económico.
Temos assistido a uma recuperação do emprego e a uma baixa consistente da taxa do desemprego.
Temos assistido ao aumento da nossa capacidade exportadora, ao aumento da nossa produção industrial,
à diminuição de juros, que, ainda hoje, bateram novos mínimos que só têm paralelo no início do ano de 2010.
Temos, Sr.as
e Srs. Deputados, mantido em funcionamento os principais sistemas públicos, assegurando e
salvaguardando o funcionamento do Estado social.
Bem sabemos que a recuperação económica do País e estes sinais positivos ainda não chegaram à vida
quotidiana de muitos portugueses. Sabemos que há um desfasamento entre estes sinais de recuperação e
aquilo que é os nossos concidadãos sentirem, no seu dia-a-dia, os efeitos dessa recuperação, mas temos
todos um desafio que, creio, é comum: fazer encurtar esse prazo em que os sinais da recuperação possam
ser, de facto, vividos pelas pessoas, pelas famílias e pelas empresas no nosso País.
E temos um outro desafio: é que estes sinais não sejam, como, de resto, prognosticou o líder do maior
partido da oposição, «sol de pouca dura», que estes sinais sejam consistentes, sejam sólidos e atestem a
sustentabilidade da nossa vida no futuro.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!