10 DE ABRIL DE 2014
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Ora, não é isso que se vai fazer. O que se vai fazer — e aí o Governo vai também inovar —, o que
concurso vai promover é a escolha de quais que são os prestadores que estão em condições de fazer aquela
oferta. Entre os prestadores, naturalmente, estarão todos. Estarão, nomeadamente, os pequenos e os médios
que neste momento não têm qualquer acordo ou convenção.
A Sr.ª LuísaSalgueiro (PS): — Acha mesmo?!
O Sr. Secretário de Estado da Saúde: — O acordo-quadro há de ser feito de tal maneira que há de
diferenciar o território através de lotes que permitam preços diferentes em função do território onde o prestador
se encontra. É bem certo que poderá acontecer que em territórios onde existe menos oferta os preços possam
ser bem diversos dos preços nos territórios onde há muita oferta.
Em qualquer caso, só serão lançados concursos desde que haja condições — e o Decreto-Lei diz isso —
em termos de oferta e procura. Ou seja, desde que a mancha de oferta não seja suficiente para ser lançado
um concurso ou desde que a mancha de procura não seja suficiente para o fazer, o concurso não será
lançado e é o contrato de adesão ou o acordo de adesão que será implementado.
Dito isto, penso que poderemos garantir que a reforma que este Decreto-Lei impõe a um sector que há
muito pedia essa reforma irá implicar um aumento da concorrência, uma perda das rendas excessivas para os
incumbentes — para aqueles que já estavam instalados —, um maior acesso para os utentes e uma melhor
capacidade de exercer a liberdade de escolha.
Este é que é o ponto do Governo: aumentar a concorrência, permitir a liberdade de escolha e melhorar o
acesso. No fundo, mudar um sector que há décadas estava estagnado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O que
fica claro da discussão que hoje aqui tivemos é que, para o Governo e para os partidos que suportam o
Governo, o PSD e o CDS, a proposta é a de que a saúde fique sujeita a critérios de mercado e de
concorrência.
Dentro das várias intervenções, as palavras mais referidas foram: o mercado, a concorrência e ficar sujeito
aos critérios e às regras do mercado e da concorrência, como se a saúde se pudesse compaginar com estes
critérios e não com critérios clínicos, critérios de qualidade do ponto de vista da saúde.
A prioridade deveria ser a prestação de cuidados de saúde de qualidade. Ora, não é isso que está em cima
da mesa. Quando se fala no mercado e na concorrência, o que vem para cima da mesa são os aspetos
mercantilistas.
O Sr. Secretário de Estado referiu que o concurso com o que o Governo iria avançar não iria colocar em
causa os pequenos prestadores. Mas não percebemos efetivamente como é que isso não os coloca em causa,
porque a prática deste Governo em concursos públicos tem sido como, por exemplo, a do concurso público
que foi lançado para a contratação de médicos através de empresas, ou seja a contratação de horas médicas
para a prestação de cuidados de saúde nos hospitais, onde — veja-se — o critério foi o do preço mais baixo!
Foi assim que contrataram médicos para prestar serviços.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Com perda de qualidade!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Foi assim que o fizeram! Não foi com base no critério da qualidade. Não foi
o currículo, a experiência ou o desempenho desses profissionais! Foi o preço mais baixo!
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — E vem dizer que não é isso que vai acontecer?! Pois no Decreto-Lei não há
qualquer salvaguarda a esse nível.