I SÉRIE — NÚMERO 80
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Por outro lado, também importa que os cidadãos não sejam onerados por esse facto, que não haja uma
diferenciação, designadamente taxas ou emolumentos a pagar aos serviços, pelo facto de se usar ou um ou
outro meio de contacto com a Administração Pública. Portanto, importava garantir que não houvesse
discriminações a esse nível.
No entanto, quando vemos uma disposição legal, na qual se refere que o Governo, através de portaria,
garantirá um sistema de taxas destinado a assegurar a sustentabilidade do sistema, aí o cidadão mete a mão
à carteira, porque já sabemos o que isso significa. Os cidadãos terão de ter cuidado com a carteira no
momento em que o Governo definir a política de taxas aplicável, tendo em conta a sustentabilidade do
sistema, porque já sabemos, na linguagem deste Governo, o que quer dizer a sustentabilidade dos sistemas:
quer dizer que o cidadão paga mais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora bem! Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Importava, pois, que nessa portaria não se utilizasse o chavão da
sustentabilidade para encarecer o acesso dos cidadãos aos serviços públicos.
Sr. Presidente, vou terminar, colocando uma prevenção final, que tem a ver com o papel que a Agência
para a Modernização Administrativa (AMA) desempenha neste sistema. Como sabemos, desempenha um
papel central, mas importa salvaguardar que não seja possível à Agência para a Modernização Administrativa
ter acesso aos próprios dados dos cidadãos. Ou seja, a interação dos cidadãos faz-se com determinados
serviços públicos,…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça o favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Terminarei de imediato, Sr. Presidente.
… e não deve ser permitido que uma agência central, como é a Agência para a Modernização
Administrativa, possa ter acesso às bases de dados disponíveis por cada serviço,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — … ou seja, que não haja aqui um Big Brother da Administração Pública que
possa aceder irrestritamente aos dados, à interconexão de dados respeitantes a cada cidadão. Importava que
isso ficasse devidamente salvaguardado.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Michael
Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Creio que
a matéria em apreço tem uma relativa concordância generalizada — ainda bem que assim é — e creio que
nesta discussão são levantadas algumas questões que também são importantes e que vale a pena relevar.
Na minha opinião, uma delas é que, com esta proposta, não se criam novas formas — desde logo
obrigatórias, mas mesmo nas voluntárias — de avaliação e de tutela de dados por parte da Agência para a
Modernização Administrativa.
Se bem compreendemos a proposta, trata-se de olhar para o que hoje é consignado para o cartão de
cidadão no que diz respeito ao fator de autenticação e introduzir outra forma paralela, voluntária, através do
acesso por telemóvel normal ou de uma caixa de correio eletrónica normal, para funcionar como um segundo
fator de autenticação, para além do habitual que é o par utilizador/palavra-passe.
Isto é importante, porque não significa, por exemplo, que haja a obrigação dos utilizadores, dos cidadãos,
acederem a um novo mecanismo para se poderem autenticar, podendo utilizar o que já utilizam atualmente,
mas, para sua maior segurança, aderirão, se quiserem, a este sistema multifator.