13 DE MAIO DE 2014
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assentamos políticas sociais que correspondam, de facto, às capacidades dos portugueses e às capacidades
da nossa economia. É isso que temos de fazer e é para esse trabalho que todos são convocados.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado, do PCP.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O que ontem era verdade, hoje é
mentira. O que, a pés juntos, juraram que não era, afinal, passados poucos dias ou meses, já é. A saída, que
era limpa, afinal, é tudo menos limpa e não é saída nenhuma.
Este Governo de desgraça nacional, do PSD e do CDS, com a conivência do Presidente da República, usa
e abusa da artimanha, da dissimulação, do engano e da trapacice para, tentando enganar os portugueses,
manter aquilo que desde o primeiro momento foi o seu programa político: empobrecer a maioria para engordar
meia dúzia.
Há cerca de seis meses atrás, o Ministro do Emprego, Pedro Mota Soares, do CDS, referindo-se ao
ajustamento salarial no setor privado, declarou solenemente: «já foi feito». Mais informou que tinha
manifestado total discordância com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que insiste numa maior
flexibilização laboral em Portugal.
Disse o Sr. Ministro: «Objetivamente, há uma diferença de opinião entre o Governo e o FMI na matéria do
mercado laboral. O Governo português considera que o ajustamento, nomeadamente no setor privado, já foi
feito e considera que não é modelo de desenvolvimento em Portugal um modelo assente em salários baixos».
Olhando para o futuro, cito novamente o Sr. Ministro, dizia: «o setor privado em Portugal já fez um conjunto
de ajustamentos»; «o tempo agora é de crescimento da economia, de recuperação de postos de trabalho e de
motivação dos trabalhadores».
Mas há mais: o Ministro, irrevogavelmente demissionário, e, em menos de 48 horas, promovido a Vice-
Primeiro Ministro, Paulo Portas, fez questão de afirmar publicamente que «nesta matéria há discordância,
quando à evidência e circunstância. O setor privado já reajustou nos últimos anos e queremos demonstrar que
assim é».
Depois, veio o Primeiro-Ministro, Passos Coelho dizer, há menos de cinco meses, que as empresas
privadas reduziram, «em termos nominais, cerca de 11% do valor dos salários» e disse que o Governo não
pretende «um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários», recusando, assim, a ideia de que iria
baixar, ainda mais, os salários dos trabalhadores do setor privado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Dando o dito por não dito, fazendo o contrário do que recentemente
afirmaram ser a sua posição, o Governo anunciou mais uma alteração ao Código do Trabalho, que visa
destruir a contratação coletiva de trabalho e reduzir rapidamente os salários dos trabalhadores do setor
privado.
Com esta alteração ao Código do Trabalho, o Governo pretende reduzir os prazos de caducidade dos
contratos coletivos e impedir que, fruto dessa caducidade, os direitos conquistados pelos trabalhadores
transitem dos contratos coletivos para a esfera individual do trabalhador, como atualmente acontece.
No fundo, o Governo PSD/CDS quer acelerar e facilitar a caducidade dos contratos coletivos de trabalho e
impedir que direitos, como os prémios de assiduidade, o subsídio de turno, o pagamento acrescido do trabalho
noturno, a isenção de horário de trabalho ou cláusulas que compensem a penosidade, subsistam para os
trabalhadores que os conquistaram.
A serem aprovadas, estas novas alterações ao Código do Trabalho representam uma redução muito
significativa dos salários dos trabalhadores do setor privado, agravando, assim, a já gritante exploração dos
trabalhadores portugueses.
Fica assim provado que todas as declarações de que não iriam reduzir mais os salários do setor privado,
de que o ajustamento estava feito, de que o modelo de desenvolvimento não era de baixos salários, eram
«para inglês ver».