I SÉRIE — NÚMERO 84
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O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — … e impor uma alteração profunda na política nacional, conquistando os
valores de Abril no futuro do nosso País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Com o desemprego a aumentar
e os salários e as prestações sociais a diminuir, há cada vez mais famílias com dificuldades em assegurar o
pagamento de serviços básicos e essenciais como a água, a luz ou o gás.
Os números mais recentes conhecidos sobre esta realidade são alarmantes e reveladores do drama para o
qual foram atiradas milhares de famílias, em consequência das políticas antissociais deste Governo.
Em 2013, a EDP cortou o abastecimento de eletricidade a 285 000 famílias que não conseguem pagar a
conta da luz.
Cinco em cada 100 clientes da EDP não têm dinheiro para pagar a conta da luz e cerca de 100 000
famílias são obrigadas a pagamentos faseados, porque não lhes resta outra alternativa que não seja o
pagamento a prestações deste bem essencial.
Diz-nos a DECO que estas são pessoas que «ao longo da vida têm cumprido os seus compromissos e que
por questões relacionadas com o desemprego, por exemplo, podem estar num momento da vida muito difícil»
e que «estão numa situação de incumprimento no pagamento desses serviços essenciais».
São famílias a quem foram retirados rendimentos do trabalho, que foram obrigadas a pagar mais impostos,
foram obrigadas a mais sacrifícios, a mais pobreza. São famílias que deixaram de conseguir pagar — não são
caloteiros! —, são milhares de pessoas que se encontram em grande dificuldade.
Primeiro, chega a situação de desemprego, muitas vezes continuada. Depois, a dificuldade de chegar ao
fim do mês, as contas por pagar — da água, da eletricidade, da prestação da casa, as contas da escola e,
depois, a comida. Uma espiral que, para milhares de famílias, se tornou impossível de travar.
A dimensão deste drama é ainda maior quando sabemos que, numa altura de profunda crise social, o
número de clientes da EDP com direito à tarifa social, que se destina aos mais carenciados, teve uma redução
de 10 000 no ano passado, baixando para 60 000 clientes. É pois quando a crise se intensifica, em que mais
apoios seriam necessários, que se voltam as costas aos mais pobres.
E o Governo bem pode «encher a boca» com anúncios de boas intenções, de que iria estender a tarifa
social a 500 000 famílias, porque os números desta insensibilidade social não mentem.
Não existem menos famílias a precisar de ajuda, pelo contrário, existe é um Governo completamente
alheado das dificuldades reais do País, que voltou as costas às famílias.
Sabemos que Portugal tem o quarto preço da eletricidade mais elevado na Europa, acima de Espanha,
Reino Unido ou França, e que este foi o Governo que mais fez aumentar as tarifas.
E também sabemos que, em 2013, a EDP de António Mexia — que, não nos esqueçamos, defendeu em
tempos uma «lista negra» para os clientes com dívidas — registou lucros de 1005 milhões de euros e que
agora mesmo, enquanto aqui estamos, os acionistas da EDP estão reunidos em assembleia geral para votar o
valor dos dividendos das ações a distribuir.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Exatamente!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Fica claro que a austeridade, que retirou poder de compra e colocou
milhares de famílias em situações de pobreza, não toca a todos. Uns poucos continuam a aumentar os seus
ganhos à custa do empobrecimento generalizado.
Em três anos de troica em Portugal, registou-se um crescimento de 15% nas famílias que não conseguem
pagar a conta da luz e de 30% no caso do gás. Três em cada dez pessoas não conseguem pagar a conta da
luz, diz-nos a DECO.