I SÉRIE — NÚMERO 84
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Esta nova alteração ao Código do Trabalho, para além de ser mais uma declaração de guerra aos
trabalhadores, visando a redução de salários e a liquidação de direitos, constitui também mais um feroz ataque
aos sindicatos e ao papel que cumprem na defesa dos trabalhadores.
O Governo quer amordaçar e destruir os sindicatos, não só para vingar o facto de terem sido importantes
obreiros da luta que conduziu esta maioria PSD/CDS ao isolamento político e social mas, sobretudo, pelo
papel que os sindicatos não deixarão de assumir na defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores que o
Governo e a política de direita pretendem ver arrasados.
Esta política e esta proposta em concreto só podem ser defendidas contra a Constituição. O direito à
contratação coletiva é dos sindicatos, pelo que não é possível, por via de uma lei, atacar a validade dos
contratos livremente negociados e assinados pelas partes, nem tão pouco é legítimo ou aceitável que se retire
os direitos conquistados pelos trabalhadores.
A defesa da contratação coletiva faz-se no plano concreto e não apenas nas palavras, como aconteceu
quando o PCP propôs o fim da caducidade ou a reposição do princípio do tratamento mais favorável.
Esta proposta de lei, juntamente com o Documento de Estratégia Orçamental, com os cortes nos salários
na Administração Pública, por via da tabela única e dos cortes nos suplementos, com os cortes das prestações
sociais, com o aumento do IVA, com os cortes nas reformas, com o aumento da taxa social ÚNICA, que tira
rendimento a todos os trabalhadores, confirma que o Governo pretende continuar o saque aos rendimentos de
todos os trabalhadores e reformados do nosso País.
O Governo, o PSD e o CDS-PP, usam a troica, o défice e a dívida, que não para de aumentar, como alibi
para promover aquele que é o seu verdadeiro objetivo e programa político: concentrar cada vez mais a riqueza
nacional em meia dúzia de grandes grupos económicos e servir os seus interesses.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Não se salva o País cortando salários e atirando cada vez mais pessoas
para a pobreza. Não se reduz a dívida provocando a recessão, a emigração e o desemprego.
O Governo, o PSD e o CDS podem dizer as vezes que quiserem que o empobrecimento, os cortes nas
reformas ou a exploração visam salvar o País, mas a verdade é que o desemprego, a fome, a emigração, a
exploração e as reformas de miséria afundam o nosso País, não o salvam.
Bem pode o Primeiro-Ministro, Passos Coelho, falar de saída limpa. Bem pode o Vice Primeiro-Ministro,
Paulo Portas, falar do «fim do protetorado» e de «recuperação da soberania», querendo fazer desaparecer a
assinatura do CDS e do PSD do documento de traição nacional chamado Memorando de Entendimento, a
verdade é que os PEC e a troica não só não se foram embora como a troica, o Governo PSD/CDS e a política
de direita são inseparáveis.
Só há uma saída limpa para o nosso País, que é a derrota deste Governo e da política de direita para, com
a vontade e força do povo, como propõe o PCP, consagrar os valores de Abril no futuro de Portugal.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, do Bloco
de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, quero saudá-lo pela sua
intervenção, pela temática que nos traz, nomeadamente a nova proposta do Governo de caducidade dos
contratos coletivos de trabalho no prazo de dois anos.
Sabemos que esta é mais uma proposta que faz parte do pacote de ataque aos portugueses e aos seus
direitos.
Sabemos que Passos Coelho esqueceu tudo o que disse em campanha eleitoral, mas disse-nos uma
verdade que tem vindo, dia após dia, a ser confirmada pela sua política. Essa verdade, consubstanciada numa
palavra, tem feito o seu caminho: empobrecimento. Em todos os domínios, as políticas deste Governo têm
levado ao empobrecimento do País.
Disse-nos, e pôs no terreno também, uma palavra de ordem clara, que foi o ataque aos rendimentos do
trabalho. E assim cortou pensões, assim cortou apoios sociais, assim cortou salários e assim continua a
querer cortar, mais e mais, direitos de uma vida.