I SÉRIE — NÚMERO 85
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Sr. Deputado Pedro Alves, começou por falar na questão da agricultura familiar, o que é curioso. Não deve
ter ouvido a resposta da Sr.ª Ministra quando o PCP lhe perguntou, na última audição, qual era o orçamento
disponível para a agricultura familiar. A Sr.ª Ministra respondeu «o Sr. Deputado deve pensar que nós temos
ali uma caixa para fazer as comemorações do Ano Internacional da Agricultura Familiar», o que diz muito
daquilo que são os valores disponíveis.
Deixe-me dizer-lhe, Sr. Deputado, que concordamos com esta coisa das ideias ultrapassadas, porque,
realmente, associadas à agricultura, há muitas ideias ultrapassadas, como, por exemplo, a exploração laboral,
o trabalho clandestino, enquanto a agricultura se desenvolve.
Aplausos do PCP.
O Sr. Deputado sabe que essas ideias existem, sabe que existem no Alqueva e sabe que existem no
Douro, onde os trabalhadores são tratados como se fossem alfaias. Ou seja, quando são precisos vão lá
buscá-los, mas quando não são precisos depositam-nos e ficam sem poder viver. São essas as ideias
ultrapassadas associadas à agricultura que o senhor refere.
Relativamente à nossa autossuficiência alimentar ser superior a 80%, o Sr. Deputado sabe muito bem que
há produtos estratégicos, como a carne, os cereais, as batatas, o feijão, em que Portugal poderia produzir
mais e não produz. Estes são produtos estratégicos e o Sr. Deputado sabe muito bem disso quando refere
esta questão.
É curioso, Sr. Deputado, que tenha utilizado todos os clichés e preconceitos contra o Partido Comunista
mas não tenha tido uma única palavra relativamente às 21 propostas que apresentámos.
Aplausos do PCP.
Já o mesmo não dizemos do CDS, por isso valorizo a intervenção do Sr. Deputado Abel Baptista, que, pelo
menos, se debruçou sobre as propostas do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Ramos (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
Deixe-me dizer-lhe, Sr. Deputado, que esta questão da necessidade de comparticipação dos 500 milhões
de euros faz com que os fundos europeus entrem como apoio e investimento para a agricultura, que os
próprios fundos dos agricultores também entrem como investimento e o Estado português contribui com zero
— zero! — de financiamento para a agricultura. Certamente que o financiamento aparecerá depois nos
benefícios fiscais escondidos nos relatórios e contas, sítio onde esse dinheiro, aquele que não entra na
agricultura, vai aparecer.
Percebemos o incómodo do Sr. Deputado relativo à regionalização. É que basta ver a relação entre a
dimensão da propriedade e aquilo que é o valor recebido de fundos comunitários para perceber a dificuldade
que o senhor tem com estas matérias.
Termino dizendo, Sr. Presidente, que o PCP teve necessidade teve de apresentar este projeto porque o
Estado ainda teria margem de manobra para minimizar as implicações da PAC junto da agricultura
portuguesa. Mas com as medidas que já conhecemos, de não majorar os apoios aos primeiros hectares, de
aplicar uma modelação aos pequenos agricultores para reduzir a modelação aos grandes, de aumentar as
áreas mínimas para acesso aos apoios, que em 2017 se espera que seja, no mínimo, de 1 ha, vê-se muito
bem de que lado é que está o Governo nesta matéria.
Foi por isso que entendemos que seria fundamental apresentar estas propostas, porque o Governo ainda
vai muito a tempo de as incluir.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, vamos passar à discussão do último ponto da
ordem de trabalhos de hoje, que consta do debate conjunto, na generalidade, dos projetos de lei n.os
596/XII