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I SÉRIE — NÚMERO 89

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metas de défice e de dívida, não para ter investimento, não para criar emprego, mas apenas para ir tendo mais

défice e mais dívida, enquanto o País ficava mais pobre e com menos emprego.

Mais: tudo aquilo que era temporário passou a definitivo e, portanto, sabemos que o empobrecimento que

criou não trouxe riqueza para as pessoas e o que lhes diz é que permanentemente as quer pobres.

Mas, mais: onde o Governo disse que não havia margem para descer o IRS e aplicou um enorme aumento

de impostos sobre as pessoas encontrou margem para descer os impostos sobre as grandes empresas; onde

faltou o dinheiro para o abono de família ou para o complemento solidário para idosos nunca faltou para os

swaps; quando não há meios para responder ao desemprego com o respetivo subsídio de que as pessoas

precisam há sempre meios para pagar mais uma PPP (parceria público-privada); quando se corta na escola,

na saúde, nos salários, nas pensões há sempre mais uma margem para um benefício fiscal ou para uma

SGPS (sociedade gestora de participações sociais).

Sabemos, portanto, que o Governo escolheu os grandes interesses financeiros contra a vida das pessoas e

merece, por isso, censura.

Quanto à terceira questão — cumpriu o Governo os compromissos para com o País? —, não é fácil fazer a

história do número de vezes que o Sr. Primeiro-Ministro disse uma coisa e fez outra, porque são tantas!

Lembro que, antes de chegar ao Governo, disse que não ia cortar salários e pensões e a primeira coisa que

fez foi cortar; lembro que, mesmo antes das autárquicas, o PSD disse que ia descer os impostos sobre as

famílias e, logo depois das eleições, as famílias viram o seu rendimento cortado; lembro ainda o Sr. Primeiro-

Ministro ter dito que não ia haver mais cortes, nem mais aumentos de impostos e o documento de estratégia

orçamental aí está. Bem sei que agora diz «este era o caminho que tinha de ser, se calhar explicámo-nos

mal».

Sr. Primeiro-Ministro, parte dos trabalhadores da Lunik, em Santa Maria da Feira, vê o seu horário de

trabalho aumentar, criando condições de trabalho inumanas, para que a outra parte seja despedida. Pergunto:

pelas leis que o seu Governo aprovou, há algum número de telefone, há algum ministro que lhes possa

explicar porque é que isto é justo ou é bom para as suas vidas?

E quanto aos trabalhadores da Kemet, que explicação, que comunicação melhor terão do seu Governo, a

que número de telefone poderão recorrer para alguém lhes explicar como pôde a empresa receber benefícios

da União Europeia e agora ir-se embora e despedir os trabalhadores?

A Joana, de 27 anos, entre estágios, bolsas e períodos experimentais nunca teve um emprego e não tem

acesso ao subsídio de desemprego. Há um número de telefone que lhe possa valer?

O António tem 80 anos e ainda trabalha, porque a pensão não lhe chega. Há uma explicação do Sr.

Primeiro-Ministro que lhe possa valer?

A Maria está na lota da Nazaré a trabalhar em troca de uma caixa de peixe, porque nem RSI (rendimento

social de inserção) tem. Há um número de telefone que lhe possa valer?

Aplausos do BE.

Protestos do PSD.

Um Governo que transforma uma crise financeira numa crise social e económica, um Governo que

transforma a crise numa crise de regime, um Governo que governa contra as pessoas, que tornou o País pior,

que não cumpriu nenhum compromisso, é um Governo que merece censura.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, julgo que percebeu bem a

forma como esta maioria PSD/CDS foi penalizada nas eleições que decorreram no dia 25 de maio.

Contudo, gostava de dizer com a maior franqueza ao Sr. Primeiro-Ministro que fiquei preocupadíssima com

a primeira reação que os portugueses tiveram oportunidade de ver da sua parte. A conclusão que o Sr.

Primeiro-Ministro retirou imediatamente das eleições foi a de «precisamos de fazer agora com que os