7 DE JUNHO DE 2014
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Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Um primeiro
aspeto que queremos sublinhar resulta da constatação do destino dos apoios públicos que ao longo dos anos
têm sido atribuídos a empresas multinacionais, estrangeiras e nacionais, para se estabelecerem em Portugal.
Neste sentido, a questão que colocamos é do relevo a dar à transparência destes processos de benefícios
fiscais e outros, parafiscais, contributivos e em espécie, ao investimento.
Ao longo dos anos, o PCP questionou o Governo sobre as condições contratualizadas e a resposta do
Governo foi sempre a mesma: as minutas, que não incluem os anexos, nem as condições concretas, nem os
planos nem calendários de investimento.
E, depois, remete-nos o Sr. Secretário de Estado para o Portal das Finanças, para o «monte»
indiferenciado dos apoios concedidos, que, aliás, de acordo com o próprio Tribunal de Contas, os números
oficiais deixam de fora montantes substanciais (1045 milhões de euros para SGPS, omitidos da Conta Geral
do Estado de 2012, por exemplo).
O Sr. David Costa (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Ora, o certo é que, ao longo dos anos, várias empresas abandonaram estes
investimentos, deslocaram-nos para outros países ou regiões, alargando o rasto do empobrecimento e do
desemprego.
Este Governo anunciou diversos contratos de investimento com apoios e benefícios fiscais para grandes
empresas, algumas das quais estão ligadas a processos de deslocalizações e encerramentos que no passado
recente deixaram marcas profundas no desemprego e no empobrecimento das regiões.
Nós perguntamos: em que termos são feitos estes negócios? Quais as consequências para os grupos
económicos que têm estas práticas?
O Governo aponta para a manutenção da norma segundo a qual as empresas poderão beneficiar de
créditos e descontos fiscais por 10 anos, após a conclusão do investimento. No entanto, as empresas apenas
têm a obrigação de manter a sua atividade por cinco anos, no caso de serem grandes empresas, ou por três
anos, nos restantes casos (sendo esta última uma novidade desta proposta do Governo).
Por outro lado, no conjunto das obrigações para a elegibilidade dos investimentos a contratualizar, não
existe qualquer condição que implique o cumprimento da contratação coletiva, da defesa do emprego estável e
com direitos, que exclua práticas de salários em atraso, ou despedimentos coletivos, ou precarização de
vínculos,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … assim como não existe qualquer condição sobre a pertença a grupo
económico e financeiro que tenha sede ou delegação em offshore ou país do espaço europeu com regime
fiscal mais favorável.
De resto, com esta proposta do Governo, o Código, na esmagadora maioria dos casos, continua a tratar de
forma igual o que é manifestamente diferente.
Independentemente do que se possa negociar caso a caso, o que é inegável é que o poder negocial e a
capacidade económica de uma grande empresa não é comparável com a realidade de uma micro ou pequena
empresa.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Deve haver, portanto, um regime que considere, de forma correta e adequada,
a especificidade e a diferença do universo destas micro e pequenas empresas.