7 DE JUNHO DE 2014
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que agora aparece mais poderosa do que muitos Estados na Europa — é transformado numa entidade com
capacidade totalitária sobre o sistema financeiro e até sobre a ação dos Estados em relação ao seu espaço
financeiro nacional.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Bem lembrado!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso mesmo, esta legislação não apresenta soluções, apresenta
mais complicações ao panorama do sistema financeiro internacional e ao paradigma que tem existido e, ao
contrário do que deveria ter acontecido e até do que tinha sido prometido a seguir à crise financeira de
2007/2008, não foi este o caminho que foi traçado no sentido de haver mais controlo, mais capacidade de agir
sobre as instituições financeiras e mais força para impedir quer a especulação quer o abuso. Não vemos que
isto tenha acontecido e não vemos sequer isto nesta iniciativa legislativa.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da
Igualdade, Sr. Secretário de Estado das Finanças, Sr.as
e Srs. Deputados: O Partido Socialista, como é
evidente, acolhe e identifica-se com esta iniciativa. É essencial reforçar a regulação do setor financeiro; no
entanto, é importante que não caiamos num equívoco. É que, se é verdade que é positiva a maior parte do
que vem disposto no projeto de decreto-lei a apresentar pelo Governo — e o Partido Socialista concorda —, é
bom perceber que a maioria destas alterações não permitiriam evitar a crise financeira que tivemos em 2008.
É um erro pensar que, com alterações desta natureza, poderíamos tê-lo feito.
Portanto, é preciso muita prudência quando falamos, como o fez o Sr. Secretário de Estado, do impacto
deste tipo de alterações no sistema financeiro, que, seguramente, são positivas — ninguém diz o contrário —,
mas estão muito longe de ser suficientes.
O Banco de Portugal e o Governo referem que esta é uma etapa num processo mais vasto — isso é
evidente —, mas este tipo de legislação será pouco ou nada eficaz com aquilo que hoje temos em cima da
mesa no projeto de união bancária. Não há, não haverá nem nunca houve nenhum sistema financeiro sólido,
sobretudo quando vivemos numa zona monetária sem um Estado soberano.
É preciso perceber que, quando, muitas vezes — e os socialistas têm-no feito sempre —, falamos, por
exemplo, de mutualização de dívida e necessidade de criar eurobonds, as eurobonds são também um ativo
financeiro fundamental para a estabilidade do sistema financeiro europeu. Os americanos têm um sistema
financeiro americano e os títulos de dívida americana são um ativo fundamental na estabilidade do setor. É por
isso que alguns debates levados a cabo, nomeadamente, por partidos como o Partido Socialista, em defesa de
avanços em certas matérias para o aprofundamento da União Europeia, têm também fortíssimas implicações
na gestão de risco e no equilíbrio do setor financeiro.
Por isso, Sr. Secretário de Estado, pedimos ao Governo que tenha bem presente que, enquanto a união
bancária mandar para as calendas a garantia dos depósitos, enquanto a união bancária continuar a pressupor
que são os Estados-membros, que não são soberanos porque não têm uma moeda soberana, os garantes
últimos da estabilidade do setor financeiro, não teremos qualquer estabilidade sistémica do setor financeiro e é
um equívoco pensar que, com legislação desta, embora positiva, estão a ser dados passos, porque
verdadeiramente não estão a ser dados.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Michael
Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados: O debate
desta autorização legislativa já vai longo.