21 DE JUNHO DE 2014
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como candidato a presidente da Comissão Europeia, pela força política que saiu vencedora, uma vez que teve
mais votos e mais lugares no Parlamento Europeu.
Os Tratados, de facto, não instituem tal regra, mas não é uma violação dos Tratados que as famílias
políticas tenham decidido respeitar esse resultado. Estamos, portanto, não por força dos Tratados mas por
força da obrigação moral, que nos vincula eleitoralmente, a respeitar essa decisão. Congratulo-me que seja
também esta a visão do Sr. Deputado.
O Sr. Deputado reclama regra idêntica para a escolha dos comissários, embora não se veja como é que tal
regra possa ser aplicada, na medida em que não houve candidatos a comissários apresentados pelas diversas
forças políticas. E, portanto, esta regra não pode ser aplicada nesses termos, com certeza.
Devo dizer que me custaria até um bocadinho ver o Sr. Deputado a defender que Marine Le Pen pudesse
vir a ser a comissária francesa, em resultado das eleições em França, na medida em que a Frente Nacional,
em França, foi a força mais votada nas eleições para o Parlamento Europeu.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Como não é, seguramente, isso que o Sr. Deputado defende, posso responder, dizendo aquilo que já disse
publicamente, que não deixarei de conversar com o Partido Socialista sobre a escolha que deve ser feita para
o lugar de comissário de Portugal, na Comissão Europeia, sendo certo que esse procedimento sempre teve
lugar no passado.
Finalmente, Sr. Deputado, a verdade é que, a propósito da carta que enviámos ao Fundo Monetário
Internacional, o que o Sr. Deputado poderia ter dito era que eram totalmente infundadas e injustificadas as
preocupações que o Partido Socialista exibiu durante todas as semanas. Faltou-lhe dizer isto, Sr. Deputado.
Protestos do PS.
Faltou-lhe dizer: «Afinal, eram totalmente infundadas as nossas preocupações!».
O Sr. António José Seguro (PS): — Isso era o que o senhor queria!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas a verdade é que, quando finalmente a carta apareceu, o Partido Socialista
refugiou-se no processo e desapareceu deste debate.
Portanto, apareceu a carta, desapareceu o Partido Socialista. Perdeu uma boa oportunidade para dizer:
«Afinal, eram infundados, totalmente infundados os nossos receios e preocupações nesta matéria!».
Aplausos do PSD e do CDS.
O Sr. Deputado Jerónimo de Sousa fez, sobretudo, uma observação que sintetiza todo o pensamento que
o Partido Comunista Português tem tido relativamente ao nosso processo de integração europeia. Considerou
as recomendações específicas da Comissão uma ingerência da União Europeia e um desrespeito pelos
nossos órgãos de soberania.
Sr. Deputado, não podemos estar em maior oposição, porque, na verdade, Portugal obrigou-se,
soberanamente, a este processo de integração europeia. Soberanamente, Sr. Deputado! Foi a nossa
Constituição e os nossos órgãos de soberania que foram ao encontro da escolha de integração europeia. Não
vejo como é que haja aqui ingerência, Sr. Deputado, é exatamente ao contrário!
Respondendo também à Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, que utilizou uma variação desta para, com mais
um rancor à mistura, fazer referência ao choque que lhe causa o facto de responsáveis europeus fazerem
comentários sobre o Tribunal Constitucional português, devo dizer que fiz comentários sobre o Tribunal
Constitucional alemão, porque nós vivemos, Sr.ª Deputada, é verdade, de forma interdependente na Europa e
uma coisa é respeitar — repare bem, Sr.ª Deputada — as decisões dos tribunais e outra coisa é furtarmo-nos
ao debate jurídico-constitucional. Nós não vivemos numa ditadura, Sr.ª Deputada, caso não tenha percebido!
Nós vivemos num País verdadeiramente democrático, onde o debate político-constitucional deve ter lugar,
deve ter lugar em Portugal e deve ter lugar no espaço europeu.