26 DE JUNHO DE 2014
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O mapa judiciário que o Governo pretende impor a partir de setembro, alegadamente em nome da
especialização e da qualidade da aplicação da justiça, desfere um golpe profundo no acesso dos cidadãos à
tutela judicial efetiva.
O que carateriza esta reforma é o encerramento e a desqualificação de tribunais em meras extensões, a
concentração de valências judiciais nas capitais de distrito, o prejuízo das populações que vivem fora dos
grandes centros e do litoral.
Às dificuldades já existentes, decorrentes da escandalosa onerosidade do acesso aos tribunais e da
negação de apoio judiciário, somam-se as dificuldades da distância, da falta de transportes e do custo das
deslocações decorrentes da concentração dos tribunais e das valências judiciais.
O que caracteriza este mapa judiciário não são as vantagens da especialização, são as desvantagens da
concentração.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — O que caracteriza esta reforma é o encerramento e a eliminação de
valências de dezenas de tribunais e a redução da competência genérica da maioria dos atuais tribunais de
comarca. Com este mapa judiciário, as populações ficam mais longe do acesso à justiça, o País fica mais
injusto.
O PCP não aceita o encerramento de tribunais e não se conforma com a ideia de que este mapa judiciário
é um facto consumado. Para o PCP, cada uma das comarcas atualmente existentes deve continuar a dispor
de um tribunal de competência genérica e, nesse sentido, anunciamos a apresentação de um projeto de lei
que visa corrigir os aspetos mais lesivos do mapa judiciário e encontrar soluções adequadas para
salvaguardar os interesses legítimos das populações no acesso à justiça e aos tribunais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Manuel
Gonçalves.
O Sr. Jorge Manuel Gonçalves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em março deste ano, o
Comité das Regiões fez aprovar a Carta da Governação a Vários Níveis na Europa, um instrumento político
que consagra práticas de governação que incluem, entre outros, os princípios da participação e da parceria,
além de prever um processo de definição de políticas transparente, aberto e inclusivo.
Se o Governo tivesse a capacidade de apreender tais princípios e de levar à prática o enunciado naquela
Carta de Governação, veríamos serem dados importantes passos na definição de políticas assentes no
diálogo e na parceria, sobretudo com quem conhece melhor o território e as necessidades das populações, as
autarquias locais.
Para que tal fosse possível, o Governo teria igualmente de ser capaz de definir uma política para o
ordenamento do nosso território que encontrasse nas autarquias locais — em particular, nos municípios —
parceiros fundamentais no processo de desenvolvimento económico, social e ambiental. Mas tal não sucede,
muito pelo contrário.
Ao invés do diálogo e da parceria, o atual Governo tem apostado antes no confronto e na hostilização.
Ao invés da transparência, o Governo tudo tem feito para tornar os processos opacos e de muito difícil
escrutínio.
É neste cenário que o Partido Comunista Português apresenta a iniciativa legislativa que temos hoje em
mãos, visando impedir o encerramento de serviços públicos.
Esta matéria tem merecido, desde sempre, a particular atenção do Partido Socialista, que desde cedo
soube sinalizar que o Governo, sob o pretexto de ser necessário racionalizar as redes de serviços públicos de
proximidade ao cidadão, tem, ao invés, desmantelado a eito serviços desconcentrados da administração do
Estado, sob a forma de propostas de consolidação da administração desconcentrada, sempre apresentadas
desintegradamente, por mera sobreposição de lógicas setoriais e sem qualquer concertação prévia ou
preocupação de planeamento territorial.