8 DE AGOSTO DE 2014
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Mas não esquecemos o que nos trouxe aqui: sabemos que, neste mundo da aldrabice, em que a finança
tudo pode, tudo quer, tudo faz, em que o Governo e os reguladores se fiam na boa-fé dos administradores
bancários, não há, de facto, qualquer regra, porque a falta de regras é exatamente o que está em cima da
mesa.
Onde está, afinal, a estabilidade financeira que a Sr.ª Ministra e o seu Governo construíram durante três
anos?! Onde fica ela, afinal, quando vimos que os buracos financeiros do Banco Espírito Santo eram um atrás
de outro?! Onde fica essa conta certa da estabilidade financeira? Não existe! Não existe, porque o Governo
tem mão forte sobre os trabalhadores, mão forte sobre os pensionistas, mão forte sobre aqueles que vivem do
trabalho, mas, afinal, não tem mão nos desmandos da banca.
Dir-nos-á a Sr.ª Ministra: «Bem, mas os acionistas ficarão sem o seu dinheiro, até os administradores e as
suas famílias ficarão com as contas congeladas». Mas os offshore existem, Sr.ª Ministra, e ainda funcionam! E
todos sabemos que, por exemplo, Ricardo Salgado tem dezenas ou centenas de milhões fora do País e,
nesses, não há um cêntimo que seja tocado.
De facto, a mão forte é sempre para os que vivem e trabalham cá, mas a mão fraca é sempre para aqueles
que têm o poder de fugir à regulação, de fugir às regras que este Governo criou e nas quais não tem,
efetivamente, uma teia forte que proteja as pessoas.
Daí as nossas perguntas sobre o dinheiro dos contribuintes, sobre o que tem de mudar para que nada disto
aconteça no futuro e sobre onde andou o Governo, que nada fez, antes ajudou a que todo este castelo de
cartas de aldrabice se construísse, para desmoronar de um dia para o outro, num fim de semana, e para dizer,
a final, que o banco não era sólido, que os banqueiros não eram de confiança e que o dinheiro público não
podia mesmo ser utilizado.
De facto, nessas três ideias, que eram as centrais em todo este processo, o Governo falhou redondamente
e ainda não deu garantia de que não vai haver, no bolso dos portugueses, uma «bomba-relógio» a explodir
num futuro próximo.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados, Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: A banca criou um problema, mais um, e os portugueses
têm mais um problema.
O Governo diz que a solução é boa e nós já nos vamos habituando a esta postura: a solução para os
problemas dos grupos financeiros privados é sempre boa para o Governo desde que se disponibilizem
dinheiros públicos para os resolver.
Assim foi no caso do BPN, solução que o PSD e o CDS subscreveram, assim foi com a recapitalização do
BCP, do BPI e do BANIF. Aliás, este Governo, para a banca, tem sempre dinheiro. O mesmo Governo que diz
que não há dinheiro para os apoios sociais, que não há dinheiro para as reformas e para os salários, que não
há dinheiro para a saúde e para a educação, tem sempre dinheiro para a banca.
Para a banca, com este Governo, nunca falta dinheiro; ele aparece sempre, e é sempre aos milhares de
milhões. E, depois, ficamos diante de uma situação verdadeiramente imoral, injusta e até indigna num Estado
de direito: enquanto os bancos dão lucro, os seus acionistas dividem os lucros entre si; quando a coisa se
complica, o Governo coloca os contribuintes a pagarem os prejuízos e a irresponsabilidade dos banqueiros.
No caso do BES, não é só de irresponsabilidade dos banqueiros que estamos a falar, porque, de facto, não
é fácil compreender como é que em apenas três semanas, repito, em apenas três semanas se passa de um
banco que o Governo dizia ser sólido para um banco a precisar de ser resgatado. Não se compreende. Como
é que o Governo deixou o BES chegar ao ponto a que chegou? Não se compreende.
Quanto à solução encontrada pelo Governo ou pelo Banco de Portugal — ainda não percebemos muito
bem se o Governo se limitou a transformar o Banco de Portugal numa espécie de airbag ou se a solução foi
mesmo desenhada pelo Banco de Portugal —, a verdade é que se trata de um plano que coloca o Estado
como prestador de último recurso.