I SÉRIE — NÚMERO 108
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disso e hoje vem, aqui, o Sr. Secretário de Estado dizer, curiosamente, que a proposta que apresenta passa
no teste.
A verdade é que quase todas as propostas de cortes salariais, de cortes nas pensões, de ataque ao
trabalho, não têm passado no Tribunal Constitucional.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Portanto, até parece que vem fazer um favor às pessoas que trabalharam
uma vida inteira, que trabalham hoje, que sustentam o Estado social e às pessoas, que também são as
fazedoras desse mesmo Estado social, nomeadamente os funcionários públicos, que o senhor quer fazer crer
que são os culpados das contas públicas. Não são, Sr. Secretário de Estado! Não são!
Os senhores sabem bem de quem é a culpa de termos a economia como temos. A culpa é das políticas em
que os senhores insistem, das políticas de austeridade. Por isso, não nos venham dizer que os culpados da
dívida ter aumentado, os culpados da nossa economia não crescer são exatamente os funcionários públicos
ou os pensionistas, que os senhores têm sucessivamente atacado.
Como tal, hoje, o que temos aqui é um recuo calculado do Governo, porque os senhores bem sabiam, na
discussão destas matérias, que estavam a ir contra a Constituição. É um recuo calculado relativamente aos
pensionistas, mas com um aviso sério à navegação. E o aviso sério que estão a fazer é o de que não é desta
forma, mas vai haver outra. Ou seja, os senhores vão alterar a forma de subtrair os rendimentos das pessoas,
mas vão fazê-lo — disseram-nos aqui, na discussão da proposta anterior, disseram-nos os Srs. Deputados e
líderes da bancada da maioria e disseram agora os senhores Secretários de Estado do Governo. O que
significa que os senhores, teimosamente, querem continuar a cortar, querem continuar a não cumprir os
contratos que firmaram com as pessoas ao longo das suas vidas de trabalho. Não é defeito, é feitio, é opção, é
ideologia, é a marca de uma governação falhada.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge
Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: De
inconstitucionalidade em inconstitucionalidade, este Governo de desgraça nacional, do PSD e do CDS, vai
governando contra a Constituição, contra a lei e contra os valores de Abril e, enquanto se mantiverem em
funções, não vão dar descanso aos trabalhadores e reformados do nosso País.
Desta vez, foi a dita contribuição de sustentabilidade e os cortes nos salários dos trabalhadores da
Administração Pública até 2018 que foram declarados inconstitucionais.
Relativamente ao diploma sobre o corte dos salários, importa dizer que a proposta visava transformar os
cortes temporários em definitivos e, ao contrário do que o Governo e o PSD afirmam, não há nenhuma
reposição. O que temos são novos cortes nesses salários, uma vez que PSD e CDS-PP afirmaram e juraram a
pés juntos que os cortes eram até 2014, ou seja, iriam durar enquanto a troica cá estivesse. Hoje temos novos
cortes nos salários dos trabalhadores.
Vozes do PCP: — Bem lembrado!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mais: há uma questão que se coloca no que diz respeito aos cortes dos
salários.
Temos três anos consecutivos de cortes nos salários. Pergunto: que problema é que resolveu o corte dos
salários? Nenhum! O desemprego continua gravíssimo, a dívida continua a aumentar e o problema do défice
mantém-se, provando-se, assim, que, além de injusto, o corte dos salários não resolve nenhum dos problemas
do nosso País.
Quisessem os partidos da maioria e o Governo resolver o problema do défice, teriam, necessariamente, de
atacar os swaps, as PPP ou deixar de atirar dinheiro para a banca, e isso, infelizmente, não fazem.