18 DE SETEMBRO DE 2014
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O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira, a história tem alguns
paradoxos. Estou a referir-me à intervenção paradoxal da Sr.ª Deputada Teresa Caeiro. E o paradoxo dessa
intervenção é lembrarmo-nos que, há 35 anos, o CDS deixou o Governo porque o Governo da altura criou o
Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.
É curioso, 35 anos depois, ver o CDS associar-se às manifestações em defesa do Serviço Nacional de
Saúde. Não se trata seguramente de convicção, trata-se apenas de necessidade e de propaganda política.
Mas vamos a outro paradoxo, bem mais importante. O paradoxo é que é precisamente no ano em que
assinalamos os 35 anos do Serviço Nacional de Saúde — e não é de um qualquer Serviço Nacional de Saúde,
é do Serviço Nacional de Saúde geral, universal e gratuito na prestação — que temos um Governo que,
durante três anos, desenvolveu aquilo que, até hoje, nunca tínhamos visto em Portugal: estagnação e
retrocesso na obra de construção do Serviço Nacional de Saúde.
Três anos depois, o Serviço Nacional de Saúde está pior. Está pior porque pararam o investimento, está
pior porque reduziram o orçamento corrente, está pior porque pararam a reforma dos cuidados primários, está
pior porque reduziram as camas dos cuidados continuados, está pior porque a reforma hospitalar que
anunciaram se reduziu ao encerramento de serviços e à criação de um clima nos hospitais que leva ao
racionamento da medicação.
Os resultados, três anos depois, estão à vista: espera-se mais, perdeu-se qualidade, há menos
profissionais, faltam mais médicos de família. Ou seja, o SNS está pior. E o que é mais grave é que, quanto
mais impostos os portugueses pagam, pior está. Por isso, é ainda mais injusta a existência de taxas
moderadoras. Assim, Sr.ª Deputada, pergunto-lhe se o Partido Socialista está disponível para se juntar à
esquerda e, no próximo Orçamento do Estado, acabar de vez com as taxas moderadoras, em Portugal.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira.
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Sr.ª Presidente, agradecendo as questões que me foram
colocadas, começo por responder à Sr.ª Deputada Teresa Caeiro, dizendo que porventura não ouviu
atentamente a minha intervenção, porque eu sublinhei, logo no início, que o SNS pode ser considerado o
nosso vínculo comum.
Penso que, independentemente dos paradoxos da história a que fez alusão o Sr. Deputado João Semedo,
hoje todos reconhecem a importância do Serviço Nacional de Saúde na correção das desigualdades de
origem. Para quem, como eu, trabalhou, muitas e muitas vezes, muitos e muitos anos, em instituições de
saúde, não há nada de mais empolgante, de mais maravilhoso no serviço público do que ver, lado a lado, na
mesma situação, com acesso ao mesmo nível de tratamentos em termos de qualidade, o pobre ou o rico, o
homem ou a mulher (estes, é claro, em sítios separados), qualquer que seja a nossa condição de base ou de
origem. Isso é algo de absolutamente fantástico, que não se conseguiu em mais nenhum outro sistema na
dimensão de sujeição a que a doença obriga. E é isso que é absolutamente fantástico e que não podemos
perder.
Muitas pessoas que, ao princípio, eram adversárias do Serviço Nacional de Saúde, hoje são também suas
defensoras. E por isso sublinho e refiro: é o nosso vínculo comum. Agora, olhamos para ele de maneiras
diferentes, olhamos para ele com convicções diferentes, e olhamos para ele também com formas diferentes de
avaliar o impacto das decisões que são tomadas.
Exprimi a minha opinião sobre a importância de garantir o acesso e de considerar que, em épocas de crise
financeira, que indubitavelmente arrastam as pessoas para situações muito mais graves do ponto de vista
pessoal e familiar, não se pode fazer barreiras ao acesso. É que, entre pagar uma taxa moderadora para vigiar