I SÉRIE — NÚMERO 2
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ou para ir saber o diagnóstico precoce de cancro de um caroço ou de um sinal que se identificou e o dar de
comer ao filho em casa, uma mulher escolherá sempre dar de comer ao filho em casa.
É por isso que é absolutamente indispensável que não usemos as taxas moderadoras como barreira ao
acesso devido. Devemos usá-las como instrumento de política de saúde para evitar que se faça aquilo que
não é necessário. Até porque normalmente há uma confusão — e uma confusão cada vez maior — entre
saúde e consumo, que começa logo na organização da União Europeia. Saúde sustentada por financiamento
solidário não é consumo; saúde sustentada por financiamento solidário é ter acesso àquilo de que se
necessita e não àquilo a que caprichosamente podemos querer ter acesso. E isso é absolutamente vital para
distinguirmos aquilo que deve ser proporcionado no Serviço Nacional de Saúde, no sentido de garantir aquilo
que dizia o Sr. Deputado João Semedo: acesso naquilo que é indispensável, acesso naquilo que é necessário,
acesso naquilo que nos garante os mais elevados níveis de saúde. E isso não é incompatível com taxas
moderadoras. Não podem é ser taxas moderadoras que impedem a pessoa de aceder aos serviços, tendo
necessidade de o fazer, por razões económicas,…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Claro!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — … porque isso subverte completamente o desenho daquilo que
nós fizemos.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira, quero felicitá-la pela
sua declaração política sobre o SNS. Importa, porém, dizer aqui que o SNS é fruto e é filho da Revolução de
25 de Abril de 1974 e da construção coletiva do povo português e que a Constituição da República
Portuguesa, em 1976, consagrou o direito à saúde.
Foi essa construção coletiva do povo português que permitiu que, hoje, todos os portugueses tenham
acesso à saúde. Permitiria, se as políticas de sucessivos governos, quer do PS, quer do PSD, quer do CDS-
PP, e o Governo atual não tivessem impedido que os portugueses tenham, de facto, acesso a essa saúde.
O estado em que hoje se encontra o SNS e a prestação de cuidados à população portuguesa é caótico e
dramático. A situação hoje vivida pelo Serviço Nacional de Saúde é de desespero, porque faltam profissionais.
E faltam profissionais porque saem por aposentação, porque encontram fora do Serviço Nacional de Saúde
condições para a prestação de cuidados de saúde a que aspiram ou porque não são contratados em número
suficiente. Veja-se o caso dos médicos, dos enfermeiros, dos assistentes operacionais, dos assistentes
técnicos.
Faltam ainda condições materiais para a prestação desses cuidados. Veja-se as dificuldades crescentes
que os portugueses sentem para, no caso dos internamentos, terem até acesso a lençóis lavados e a
medicamentos, sendo os familiares obrigados a levar os medicamentos para esses doentes.
Mas a situação dos SNS e dos portugueses também está cada vez pior porque ainda há 1,6 milhões de
portugueses que não têm médico de família.
Hoje, há cada vez mais portugueses que não conseguem aceder aos cuidados de saúde por força das
opções políticas, das medidas que têm sido tomadas, ao encerrar-se serviços de proximidade.
Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira, gostaríamos de saber qual é a posição do Partido Socialista sobre
matérias muito concretas. Qual é posição do Partido Socialista sobre as medidas que o Governo tem tomado
no que diz respeito às transferências dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde para as misericórdias? Qual
é posição do Partido Socialista sobre o financiamento dos privados através da transferência de dinheiros
públicos? Qual é posição do Partido Socialista sobre as parcerias público-privadas (PPP)? Acompanha as
propostas que o PCP tem apresentado relativamente à necessidade de reverter essas PPP a favor do Estado?
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.