I SÉRIE — NÚMERO 4
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A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, vamos dizê-lo de forma
clara e com todas as letras: aumentar o salário mínimo nacional hoje é uma decisão que o Governo toma tarde
e de forma claramente oportunista.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Aproximam-se as eleições e há que começar a dar as boas notícias.
Vozes do PS: — Claro!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — O Sr. Deputado Pedro Roque disse: o diálogo social é, afinal, produtivo
e permite avançar. Mas o Sr. Deputado esqueceu-se de completar a frase, dizendo: é produtivo e permite
avançar quando o Governo quer e como o Governo quer.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Quando pode!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — É que, Sr. Deputado e Srs. Deputados da maioria, há muito tempo que
há um consenso na concertação social, acompanhado de um consenso em toda a sociedade portuguesa,
sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo nacional. E o Sr. Primeiro-Ministro disse de tudo. Disse
que era uma profunda irresponsabilidade, disse que estava tudo ensandecido quando se propunha aumentar o
salário mínimo nacional. E os Srs. Deputados da maioria podem dizer: sim, mas agora a economia está
pujante e fulgurante. Mas não está, Srs. Deputados! Os sinais de incerteza de ontem mantêm-se hoje. E a
única razão por que o Governo, agora, concede à concertação social o aumento do salário mínimo nacional é
porque lhe começa a dar jeito.
Vozes do PS: — Claro!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — E é absolutamente imperativo, como o PS disse muitas vezes, e diz há
muito tempo, estabilizar rendimentos — e estabilizar rendimentos depois dos cortes e aumentos de impostos a
que os portugueses assistiram nos últimos três anos.
Por isso, Sr. Deputado Jorge Machado, a minha pergunta é esta: o que é que a economia e os
trabalhadores já poderiam ter beneficiado se o Governo tivesse sabido acompanhar a concertação social
assim que a concertação social declarou aceitar e concordar com o aumento do salário mínimo nacional?
E não venham dizer que não era o Governo que tinha de determinar, porque, sim, Srs. Deputados, é o
Governo que tem, por lei, a capacidade de determinar o aumento do salário mínimo nacional. Agora, o
Governo determina, porque lhe dá jeito. Mais vale tarde do que nunca. Mas a verdade, Srs. Deputados, não é
que o Governo aumenta porque quer. A verdade é que o Governo aumenta porque lhe dá jeito.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Sónia Fertuzinhos, agradecemos o pedido
de esclarecimento, como não pode deixar de ser. Para nós é claro que se perspetiva um aumento do salário
mínimo nacional com duas condicionantes, que são determinantes. Uma primeira condicionante, claramente
oportunista, é a condicionante do período eleitoral — e o Governo faz uma gestão inaceitável e vergonhosa do
aumento do salário mínimo nacional, aproximando-o do calendário eleitoral e ignorando completamente o
sofrimento que é viver com 432 € líquidos por mês. Portanto, adiaram o aumento para o aproximar das
eleições, o que determina, é claro, uma visão oportunista daquilo que é a gestão do salário mínimo nacional.
A segunda condicionante, não menos determinante, é a condicionante da luta dos trabalhadores. O
Governo sabia, e sabe muito bem, que há ações de luta que aconteceram no passado e há já uma quinzena
de luta promovida pela CGTP, precisamente em torno do salário mínimo nacional.