I SÉRIE — NÚMERO 4
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cheira a eleições, chegou a propaganda. Por isso, as pessoas dizem, e com razão: chegassem as eleições
mais cedo e mais cedo teria chegado o aumento do salário mínimo.
Protestos do PSD.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados, acalmem-se, não se enganem. Não fiquem
satisfeitos com este valor, porque se tivessem cumprido o acordo de contratação coletiva de 2006, onde
Governo, patrões e sindicatos estiveram de acordo, chegava-se, este ano, ao valor de 545 €, muito mais do
que aquilo que este Governo aceitou, e sem os descontos para os patrões. É que já sabemos o que vem a
seguir: o Governo diz que aumenta o salário mínimo com uma mão, mas retira com a outra no pagamento das
horas extraordinárias, retira, depois, porque — como disse que faria — não repõe os feriados que disse que
seriam retirados por dois anos e que seriam novamente dados para as pessoas os poderem gozar por direito
delas, pois é fruto do seu trabalho.
Também não ouvi a maioria falar, com toda a transparência, de como vão reduzir o pagamento da TSU,
porque o que está em causa é que, deste valor, desaparecem 5 € para a segurança social, porque é esse o
desconto que a maioria está a fazer aos patrões.
Ora, é exatamente por este e por outros motivos que os trabalhadores devem lutar. Devem lutar porque
não estão a ser respeitados por este aumento, que não é justo, é injusto, porque devia ser muito maior do que
o que é hoje. É injusto também porque o Governo continua a dar benesses aos patrões enquanto retira aos
trabalhadores.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por isso, creio que, tendo em conta as posições políticas assumidas na
Assembleia, mas também no País, todas e todos nós sabemos bem que os trabalhadores continuarão a lutar
para ver aquilo que é seu por direito e que não ficam contentes com estas migalhas que o Governo lhes dá.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, quero agradecer os
seus pedidos de esclarecimento e dizer que o PCP entende que este aumento do salário mínimo nacional é
claramente insuficiente e decorre das imposições da luta dos trabalhadores e do calendário eleitoral que aqui
já foi referido.
Entendemos que o salário mínimo nacional devia ser — e o PCP apresentou um projeto de resolução
nesse sentido — de 415 €, com efeitos retroativos a junho de 2014, isto é, pagando o que não foi aumentado
desde junho de 2014, e devia haver um aumento progressivo do salário mínimo nacional para que ele atinja,
em janeiro de 2016, o valor de 600 €.
Como disse, se o valor do salário mínimo nacional acompanhasse a inflação, ele já teria de estar, hoje, em
585 € e, portanto, este aumento do salário mínimo nacional para os 505 € é claramente insuficiente.
Queríamos também destacar que o Governo está efetivamente empenhado na concentração de riqueza.
Não está no seu programa político, não está no ADN político do PSD e do CDS-PP combater as injustiças e a
exploração de quem trabalha. Antes pelo contrário, PSD e CDS estão empenhados num processo de
concentração de riqueza. Deixo os dados concretos: em 1975, fruto da Revolução da de abril, 73% da riqueza
nacional destinava-se a salários; em 2013, apenas 37% da riqueza nacional se destina a salários. É esta
magnitude da distribuição da riqueza de que estamos a falar. O PSD, o PS e o CDS tomaram medidas que
agravaram a exploração, retiraram riqueza nacional dos salários e transferiram-na para as receitas de capital,
para a dita concentração de riqueza.