25 DE SETEMBRO DE 2014
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A Sr.ª Deputada, na sua intervenção, fez-me lembrar, perante algum burburinho que ocorria aqui, neste
Parlamento, o que John Stuart Mill dizia sobre o seu pai. Dizia que era um homem que amava a Humanidade
em geral mas que detestava cada pessoa em particular. Ora, vejo nestas bancadas parlamentares muita gente
que fala nas alterações climáticas mas que, depois, pouco faz para as combater.
E, como dizia Nicholas Stern, num relatório mundialmente conhecido, a menos que se provocam ações
conducentes, há uma alta probabilidade, dentro de aproximadamente um século, de que o mundo seja em
média 4o C mais quente do que era em finais do século XIX, portanto antes do processo de industrialização.
Este aumento da temperatura em média e outras alterações climáticas com ele relacionados alterarão a
relação dos humanos com o Planeta, incluindo de onde e como vivem.
Portanto, o que nos deve preocupar não é o problema da sobrevivência do planeta Terra mas a
sobrevivência dos humanos. E, Sr.ª Deputada, nós, hoje, estamos confrontados, como aqui referiu, com a
circunstância de ser necessário existir um tratado internacional que substitua o Tratado de Quioto e que já
devia estar em vigor a partir de janeiro de 2013.
Cada dia que passa estamos a adiar um problema que é gravíssimo. Os grandes países emissores de CO2
e que provocam um aumento exponencial de CO2 estão a ter políticas que, hoje, consideramos já razoáveis,
tendo em vista atuar este grande problema do qual não temos perceção imediata mas é uma perceção para
futuro.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, já ultrapassou o tempo de que dispunha.
O Sr. Ramos Preto (PS): — Termino já, Sr. Presidente.
Espero, como a Sr.ª Deputada disse, que, em Paris, consigamos o acordo internacional que tão necessário
é, mas também penso que se não se fizer o trabalho de casa, se cada país não tiver políticas públicas no
quadro da eficiência energética, no quadro das energias renováveis, no quadro das substituição da energia
fóssil, então não será possível resolver o problema.
Portanto, primeiro é preciso que façamos o trabalho de casa para que, depois, a nível global possamos
resolver o problema.
Sr.ª Deputada, queria ouvir a sua opinião.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — A Sr.ª Deputada Helóisa Apolónia tem mais dois pedidos de
esclarecimento.
Pretende responder já ou no final dos dois pedidos de esclarecimento?
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Respondo em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Então, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado
Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar, gostava
de saudar a Sr.ª Deputada e o Partido Ecologista «Os Verdes» por, a pretexto da cimeira climática, trazer este
tema a debate na Assembleia da República, até porque importa fazer uma reflexão cada vez mais
aprofundada que vá além da manifestação de preocupações, principalmente, daqueles que a expressam nas
cimeiras e que, depois, não as corporizam em nada, mas também daqueles que aqui, sucessivamente, as
utilizam para apresentar reformas de fiscalidade verde, para apresentar um conjunto de elementos de
propaganda governativa, que depois, na prática, acabam por se traduzir sempre e apenas na penalização dos
consumidores, na penalização dos trabalhadores, em geral, e no alívio dos grandes grupos económicos, que
continuam a apropriar-se dos serviços que a natureza presta ao ser humano e a vendê-los, depois, aos
restantes seres humanos.