I SÉRIE — NÚMERO 4
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Sr.ª Deputada, sobre a cimeira climática, por parte do PCP, desde já lhe digo que não só não nos sentimos
satisfeitos como também não alimentámos nenhumas ilusões, nem relativamente a esta Cimeira nem quanto
às restantes.
É que cada vez mais se torna claro que, ao invés de estarem a ser tomadas medidas concretas de
adaptação e mitigação implantadas no território, ao invés de se tomarem medidas de ordenamento territorial
que prevejam ou antevejam situações de conflito entre o Homem e as alterações morfológicas da natureza,
provocadas, eventualmente, por ação do Homem, ao invés de tudo isso, aquilo que vemos é uma única opção:
a do mercado de licenças de emissão de gases com efeito de estufa, nomeadamente CO2, como se o simples
facto da existência de um mercado de transação internacinal, seja através de mecanismos de leilão seja
através de quaisquer outros, das licenças de emissão resolvesse o problema de emissão de CO2 no Planeta.
Ora, isso não só já se mostrou errado como se tem vindo a demonstrar, inclusivamente, que, em alguns
momentos, aumentaram as emissões de CO2 concomitantemente com a existência desse mercado.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
Faça favor de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Portanto, Sr.ª Deputada, de certa forma, o que lhe pergunto é se, à
semelhança da reforma da fiscalidade verde em discussão em Portugal, o ambiente também não é utilizado,
muitas vezes, para impor políticas e se, na verdade, não estamos cada vez mais, mesmo no que toca a estas
cimeiras, perante uma farsa para legitimar, apenas e afinal de contas, uma só opção: a do mercado de
emissões, em detrimento das adaptações necessárias a que a Humanidade e os Estados deveriam estar a
proceder.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar,
quero dar-lhe conta de que acompanhamos as preocupações que expressou na sua declaração política.
Sr.ª Deputada, permita-me começar por uma saudação a todas e a todos que, pelo mundo fora, sairam às
ruas pedindo que existisse uma preocupação dos líderes mundiais, dos governos, dos dirigentes políticos para
mudarmos este sistema que está a destruir o nosso mundo, a nossa Terra, porque, de facto, essa é a questão
fundamental: ou mudamos o modelo de desenvolvimento económico ou estaremos permanentemente a ver
populações aflitas com as alterações climáticas, vidas a serem perdidas perante esta luta e sempre os países
mais ricos a terem aqui um papel de depredação dos recursos económicos e de atacar os países com maiores
fragilidades.
Por isso, nesta saudação inicial, gostaria de dizer que é necessário mais do que aquilo que saiu desta
Cimeira. Saíram boas intenções, reconhecemos isso dos discursos que foram feitos, mas «de boas intenções
está o inferno cheio», como diz o nosso povo, e bem.
Por isso, se não passarmos das palavras à prática, não é por a China ou os Estados Unidos terem tido
discursos interessantes que nós acabamos por ter alguma transformação verdadeira que afete positivamente a
vida das pessoas.
É certo que não acompanhamos aquilo que está em cima da mesa, por exemplo sobre a mercantilização
do mercado de carbono, apesar de reconhecermos que a taxa que se prevê seja um passo correto.
A pergunta que lhe deixo é mesmo nesse sentido: o caminho que apenas tem pela mercantilização do
mercado de carbono uma possível solução é, em si, uma conclusão para o problema ou é mais uma panaceia
que temos em cima da mesa?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.