27 DE SETEMBRO DE 2014
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O Sr. Ministro Marques Guedes, que está ao seu lado e sabe tanto destas questões, não deixará de o
esclarecer, com certeza. Mas registo que esse foi o primeiro aplauso da maioria; o segundo aplauso foi
quando o Sr. Primeiro-Ministro afirmou que tinha cumprido a lei. Bem, a maioria saberá com que «linhas se
cose»…
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Mas, enfim, Sr. Primeiro-Ministro, percebi o seu esclarecimento.
O Sr. Primeiro-Ministro não recebeu nada da Tecnoforma; recebeu, sim, teve despesas de representação
pagas por uma ONG que foi criada pela empresa de que a única coisa que se sabe é que criou centenas de
técnicos para aeródromos que não existiam. Portanto, estamos esclarecidos: só recebeu despesas de
representação, por essa ONG.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, a lei foi mudando ao longo dos tempos, e bem, e se há uma coisa que se sabe,
em Portugal, é que o pagamento de despesas de representação foi sempre uma maneira «chico-esperta» de
fugir ao fisco. Hoje, e bem, essas despesas têm de constar do IRS.
E sabe, Sr. Primeiro-Ministro, a pessoa que criou essa ONG disse que o contratou, que o quis perto de si,
não pelos seus lindos olhos, mas porque o Sr. Primeiro-Ministro lhe abria todas as portas. Mas agora ficámos
a saber que o Sr. Primeiro-Ministro trabalhava com essa pessoa e com essa organização pelos lindos olhos de
quem o chamou e de quem o contratou. Ou seja, o Sr. Primeiro-Ministro trabalhou três anos à borla, numa
organização criada por uma empresa para usar fundos comunitários com fim de duvidoso interesse para o
País, e tudo isso foi feito em despesas de representação, portanto, nada disso teria de ser declarado no IRS.
Muito bem, Sr. Primeiro-Ministro. Então, agora a pergunta que se impõe é saber o valor dessas despesas
de representação. O que interessa, a questão central, é saber se estamos a falar de tostões ou de milhões.
Eram despesas para pagar um café ou era um maná dos céus? Quanto foi?
O Sr. Primeiro-Ministro não foi consultar os seus papéis, outra vez? Então saberá dizer-nos quanto foi.
Quanto recebeu em despesas de representação, quais foram as faturas que apresentou, qual foi esse valor.
Estamos a falar de tostões ou de milhões? Isso faz toda a diferença.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, percebo que depois de tanta
notícia e de tanto «filme», a propósito da Tecnoforma, do Centro Português para a Cooperação e quejandos, a
senhora possa estar confundida. E, por isso, é natural que confunda o Centro Português para a Cooperação
com os fundos — imensos — comunitários que ela terá recebido para formação.
Na verdade, não é assim, Sr.ª Deputada. É verdade que colaborei com a empresa Tecnoforma, a partir de
2001, e é verdade também que essa empresa — repito, essa empresa — desenvolveu vários programas de
formação, que contaram, também, com fundos comunitários. Mas isso, Sr.ª Deputada, não tem nada que ver
com isto nem com esta época. São coisas completamente diferentes.
Não tem nada que ver nem com esta ONG, nem com o período em que conheci dois senhores que eram
administradores dessa empresa e que fundaram, juntamente com várias outras pessoas, esta organização
não-governamental.
Quero apenas dizer à Sr.ª Deputada que, evidentemente, não recebi milhões por despesas que tenha
realizado nessa ONG, porque não haveria nenhuma possibilidade de ela poder despender milhões em
iniciativas. Portanto, Sr.ª Deputada, com certeza que se trata de despesas que, na altura, estiveram
relacionadas quer com deslocações que foram realizadas a Cabo Verde, a Bruxelas, quer dentro do território
nacional — no essencial, despesas relacionadas com deslocações ao Porto. Na medida em que julgo que isso
está documentado, procurei, com todas as pessoas que colaboraram comigo nesse projeto, encontrar uma
instituição portuguesa, que neste caso foi a Universidade do Porto, que nos ajudasse a criar uma instituição de
ensino superior em Cabo Verde. Esse projeto foi apresentado, envolvi-me bastante na sua preparação e,
portanto, estamos a falar de despesas desta natureza, Sr.ª Deputada, não estamos a falar de despesas de