I SÉRIE — NÚMERO 10
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A Sr.ª Presidente: — Prosseguimos com as perguntas a serem colocadas ao Sr. Deputado Adão Silva. É a
vez do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, gostaria mais de falar consigo
sobre perspetivas de futuro e não tanto do balanço — o balanço está feito, os portugueses já conhecem, já
perceberam que o Governo não cumpriu a palavra.
O senhor veio hoje aqui, curiosamente, contrariar o Sr. Primeiro-Ministro, que, se bem se lembra, disse que
a reforma da segurança social ficaria na gaveta. O senhor veio hoje aqui fazer um anúncio, um desafio para
uma reforma da segurança social, mas envolta numa certa nebulosa. O Sr. Deputado disse, na sua
intervenção, que «o pior já passou e estamos agora também em condições de, quiçá, aumentar mais algumas
pensões». Fez-nos aqui promessas meio nebulosas. Portanto, gostaria de lhe perguntar, muito diretamente,
em primeiro lugar, quais as pensões que vão aumentar, porque o Orçamento do Estado está aí e também o
Sr. Primeiro-Ministro, en passant, nos foi dizendo que ainda era um enigma. Se calhar, o Sr. Deputado detém
mais informação do que nós e, portanto, saberá certamente qual é a proposta concreta sobre pensões.
Mas o Sr. Deputado também tem de nos dizer se nessas promessas, que me parecem já de pré-campanha
eleitoral, vai garantir ao País que reporá as regras do rendimento social de inserção, as regras do
complemento solidário para idosos, que reporá o dinheiro que foi roubado aos desempregados através do
subsídio de desemprego, que reporá o dinheiro que foi roubado aos doentes através do corte do subsídio de
doença (e continuo a falar de segurança social) e que reporá o dinheiro que foi roubado a quem não teve o
salário mínimo nacional aumentado, como era vossa obrigação.
Por isso, para falarmos de futuro e de promessas sérias, é preciso que nos diga aqui concretamente que
promessas são essas e não se fique pela nebulosa de que, «quiçá, aumentaremos mais algumas
pensõezinhas». É que os pensionistas, Sr. Deputado, não vão aceitar de novo que o aumento das suas
pensões não chegue sequer para mais um café por dia.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Adão Silva, deixe-me agradecer-lhe a
oportunidade da intervenção e também o tom e o conteúdo da mesma, o tom equilibrado em que fez esta
intervenção, apelando, ao fim destes três anos e quando falta um ano para terminar a Legislatura, ao sentido
de responsabilidade de todos nós aqui presentes.
Tem razão o Sr. Deputado — concordo integralmente consigo e o CDS também — quando diz que esta
Legislatura, até agora, se dividiu em dois momentos fulcrais. Um primeiro momento foi aquele a que, em
linguagem comum, chamaria de «apagar os fogos», de acorrer aos «fogos» iminentes que estavam prestes a
anunciar-se.
Em contraponto ao que disse a Sr.ª Deputada Sónia Fertuzinhos, pergunto: qual era a alternativa? Qual era
a alternativa, quando herdámos um País com os cofres vazios, na iminência de nem sequer ter dinheiro para
pagar as pensões e as reformas? Qual era a alternativa que este Governo tinha? O Governo tomou as
medidas que tinha de tomar, exigentes, duras e rigorosas, inscritas no Memorando de Entendimento,
negociado e assinado pelo Governo do Partido Socialista.
Poderia relembrar aqui as especiais responsabilidades do Partido Socialista por 16 anos quase
ininterruptos de governação, que levaram o País ao estado em que estava, tanto do ponto de vista económico,
do estado da economia, como do ponto de vista da sustentabilidade do Estado social, que todos nós
defendemos e que uns, na prática, com medidas duras e rigorosas, têm mesmo de defender, saindo do mero
discurso e do verbo.
Agora, com o devido respeito, vou discordar de uma coisa que o Sr. Deputado disse. Pessoalmente, é-me
totalmente indiferente — e penso que também o é à esmagadora maioria dos portugueses — se a direção do
Partido Socialista é este grupo de pessoas ou outro grupo de pessoas. O que releva aqui é que temos um