9 DE OUTUBRO DE 2014
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Quando, no início de setembro, a Ministra veio enganar as pessoas, sustentando que tudo correria bem no
Citius, quando já tudo corria mal, acabou a desculpar-se e a prometer apurar as responsabilidades de outros.
Pena não lhe ter aproveitado a lição do rei Édipo, aquele que decidiu optar pela cegueira, alegando que não
ter entendido a realidade não o dispensava da responsabilidade de não a ter sabido entender.
Aplausos do PS.
Mas, da antiguidade à modernidade, a lição da história é intemporal: perante a gravidade dos factos, há
responsabilidades que não se delegam nem se alienam, assumem-se pessoalmente e por inteiro, com todas
as consequências.
É essa responsabilização própria que a Sr.ª Ministra da Justiça revela não estar à altura de saber fazer,
com os seus discursos de negação.
Por isso, mesmo que os problemas mais agudos do funcionamento da plataforma informática possam ir
reencontrando solução, o que está ainda longe de acontecer, a substituição da Ministra da Justiça é uma
condição indispensável para que possa retomar-se um mínimo de confiança na credibilidade das instituições,
para que os cidadãos ainda possam acreditar que há um mínimo de decência na valoração da
responsabilidade política dos governantes.
Aplausos do PS.
É que a irresponsabilidade política na justiça — entendamo-nos bem quanto a isto — não começou no dia
1 de setembro, com o colapso do Citius, começou muito antes, numa sucessão de decisões que nenhum
interesse de Estado consegue explicar mas que só a vaidade e o capricho justificam.
Por isso, em nome do PS, venho, novamente, instar os Deputados da maioria a que respondam às
seguintes questões, para esclarecimento cabal do País.
É ou não é verdade que, em 2008, recusaram a reforma do sistema judiciário, que, aliás, o PSD se tinha
comprometido a consensualizar, por, alegadamente, recusarem o encerramento, não previsto, de tribunais?
Afinal, foram os próprios a contradizer-se e a fechar os ditos tribunais.
A reforma do mapa judiciário não foi, apesar disso, iniciada numa base experimental, sustentada e
gradualista? Mas nada aprenderam com a prudência; cancelaram o trabalho feito e promoveram, de uma vez,
a disfunção geral do sistema.
Os princípios de modernização que justificam a reforma do judiciário não estavam já inteiramente
adquiridos, a saber: a especialização dos tribunais, a gestão profissional das comarcas e a adequação
territorial aos fluxos processuais? Porém, quiseram fazer tudo de novo, mas as inovações só trouxeram
afastamento da justiça e quebra de coesão territorial.
E é ou não verdade que o Memorando da troica — com as assinaturas do PSD e do CDS — comprometia
o Governo a executar a reforma, então em curso, até ao final de 2012? Sem nenhuma razão válida,
desrespeitaram, completa e grosseiramente, o compromisso.
Estas verdades, nuas e cruas, são ilustrativas do mal que podem fazer a arrogância e a leviandade na
política. Fizeram paralisar inutilmente um processo em continuidade desde o início de 2011 até estes finais de
2014; provocaram o maior estrangulamento na vida dos tribunais portugueses de que há memória na história
do País; estão ainda a levar os operadores da justiça — magistrados, funcionários, advogados — ao
desespero profissional; criaram um mapa judiciário verdadeiramente inimigo das populações, rudemente
afetadas tanto pelo caos instalado como pelo modelo de afastamento das pessoas e dos interesses reais da
sociedade.
Todos os dias se multiplicam os exemplos da má administração da justiça, da grave afetação dos direitos
das pessoas e da própria atratividade do País no domínio da atividade económica.
Só há, por isso, um caminho: a exemplar demissão da Sr.ª Ministra da Justiça, com retorno a um mínimo
de credibilidade institucional. E, se assim não for, a exemplar punição política deste Governo, necessária,
incontornável e urgente.
O País e o Estado de direito, sem sombra de dúvidas, precisam do aprofundamento das condições políticas
para um renovado pacto de regime para a justiça e para o desenvolvimento de Portugal. Foi esse o caminho