18 DE OUTUBRO DE 2014
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Segunda dificuldade: ouvir cidadãos estrangeiros que, através dos seus advogados, se refugiaram em duas
circunstâncias — primeira, a de serem arguidos, ou em Portugal ou no seu próprio país; segunda, não tendo
estatuto de residente, a de não se considerarem obrigados a depor perante uma comissão de inquérito. É uma
matéria que, do meu ponto de vista, merece também reflexão e preocupação por parte do Parlamento, caso
venhamos a confrontar-nos com ela em futuras comissões de inquérito.
É certo que a Comissão fez o que tinha a fazer, reportou a V. Ex.ª essas situações e, tanto quanto sei, a
Sr.ª Presidente até já deu seguimento para a Procuradoria-Geral da República para o que for entendido por
conveniente. De qualquer forma, é uma matéria que deve ser pensada.
Um terceiro objeto de dúvida e preocupação foi o próprio prazo de trabalho e funcionamento da Comissão.
Como é evidente, este aspeto gerou uma enorme discussão entre aqueles que entendiam que, salvo motivos
de força maior, o prazo deveria ser, tanto quanto possível, cumprido, que foi sempre o entendimento da
maioria, e entre o entendimento da oposição, que considerou sempre que quer o ritmo quer a capacidade de
trabalho intensiva não seriam suficientes para a forma como a Comissão devia trabalhar e que dever-se-ia até
manter em aberto a Comissão, procurando novas iniciativas ou novas realidades.
Devo dizer que, enquanto Presidente da Comissão, procurei cumprir a regra. E a regra, que nem sempre
no nosso País é levada muito a sério mas que me parece uma boa regra, era a de procurar cumprir os prazos
de trabalho, se necessário trabalhando intensivamente. Este é o resultado do nosso trabalho.
Sr.ª Presidente, para terminar, não deixaria de dizer que notei algumas críticas e dúvidas sobre o trabalho
da Comissão.
A primeira das críticas tentava passar um pouco a ideia de que esta Comissão teria funcionado com muitos
incidentes ou sempre sujeita a incidentes. Devo dizer que, da minha experiência, não guardo nenhum agravo
desse tipo, muito pelo contrário. Penso que os trabalhos da Comissão decorreram sempre sem grandes
incidentes, sem problemas de maior, funcionaram sempre, e só, eventualmente, na fase final, e em relação ao
seu fecho, se notou alguma crispação. De facto, não registei incidentes de maior.
A segunda das críticas referia-se à ausência de determinadas diligências. Não estou a referir-me aos
Deputados ou aos grupos parlamentares, mas tenho lido na comunicação social que haveria diligências
fundamentais que deveriam ter sido feitas, designadamente em relação a fluxos financeiros e a determinadas
personalidades que deveriam ter sido ouvidas, e que, provavelmente, serão ouvidas numa outra comissão de
inquérito entretanto constituída. Estou a referir-me obviamente, e sem dúvidas, à comissão de inquérito ao
caso do BES.
Devo dizer, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, que ninguém pediu a audição de tais personalidades.
Portanto, aproveito para informar a comunicação social que essas audições não foram pedidas.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Por último, e agora sim, Sr.ª Presidente, mesmo a terminar, queria dizer
que a Comissão parou naquilo que é, do meu ponto de vista, a fronteira da justiça e a fronteira da separação
de poderes.
É certo que outras entidades continuarão a trabalhar sobre estes assuntos, é certo que outras comissões
poderão vir a analisar questões que tocam nestas mesmas questões. Não tenho a pretensão, nem tenho,
sequer, a convicção de trabalhar na sétima maravilha das comissões de inquérito, mas também tenho a
certeza de que o trabalho que fizemos foi útil, foi produtivo, é um acervo fundamental que, seguramente, será
tido em conta em qualquer futura discussão sobre esta matéria. Na minha opinião, foi feito um trabalho com
integridade, com seriedade, com honestidade e com empenho.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — O Sr. Deputado Telmo Correia ultrapassou o tempo de que dispunha. Sendo o
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito foi difícil interrompê-lo, mas pedia aos Srs. Deputados que
atentassem nos limites de tempo para intervenção.
Vou dar agora a palavra à Sr.ª Relatora da Comissão, Deputada Mónica Ferro, a quem peço o favor de
respeitar o tempo.