I SÉRIE — NÚMERO 15
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Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mónica Ferro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Foi com grande sentido
de responsabilidade que abracei a minha função de relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito Relativa
aos Programas de Aquisição de Equipamentos Militares.
Diz-nos o Regimento que estas comissões têm por missão vigiar o cumprimento das leis e apreciar os atos
do Governo e da Administração. Para além de obedecerem a regras próprias em matéria de constituição,
gozam dos poderes de investigação das autoridades judiciais.
Ora, a proximidade dos poderes de investigação das autoridades judiciais e a possibilidade de produzirem
provas no decurso dos seus trabalhos leva, por vezes, à perceção errada de que o apuramento dos factos nas
comissões de inquérito deve dar lugar a uma sentença ou a uma acusação.
Como sabemos, e desejamos, não é assim: num Estado de direito, erigido sobre o princípio da separação
de poderes, compete ao Ministério Público aduzir a acusação e cabe aos tribunais o monopólio das sentenças
judiciais.
Os Deputados não deixam de colaborar com a justiça. Por isso, a última frase deste relatório recomenda a
sua remissão, bem como o acervo documental coligido, para Procuradoria-Geral da República para os efeitos
legais convenientes. Mas as nossas conclusões são factuais.
Do mesmo modo, quis representar com imparcialidade, com abertura e com frontalidade as questões que
foram colocadas pelos diferentes partidos políticos. A minha maior preocupação foi trazer luz sobre todas as
matérias, com garantia do contraditório no apuramento dos factos e com total desassombro sobre as eventuais
consequências.
Durante demasiado tempo, os processos de aquisições de equipamento militar em Portugal estiveram
envoltos num clima de suspeição e de suposta falta de transparência, que em nada favorece a qualidade da
nossa democracia, o bom nome dos agentes políticos e militares e a confiança nas contas públicas.
Encarei o presente relatório como uma oportunidade, rara e tardia, para o esclarecimento cabal sobre as
escolhas dos equipamentos militares dos sete programas em questão, sobre a lisura dos procedimentos
adotados pelos vários governos e chefias militares e sobre as responsabilidades políticas de cada um destes
movimentos. Factos, foi o que procurei.
Foi com este espírito que trabalhei para que o relatório fosse um reflexo límpido do que foi produzido em
termos de prova na Comissão.
O presente relatório versa sobre sete grandes programas: a aquisição de helicópteros EH 101, a
modernização das aeronaves P-3, a aquisição das aeronaves C-295, a aquisição de torpedos para os
submarinos, a modernização das aeronaves F-16, a aquisição dos submarinos e a aquisição de Viaturas
Blindadas de Rodas (VBR-PANDURII).
Durante 62 reuniões, foram ouvidos 50 depoentes, mais 3 que responderam por escrito.
Estas reuniões deram lugar a mais de 4000 páginas de atas de audições e a milhares de outras páginas de
documentos enviados à Comissão. O relatório final soma 420 páginas de factos, seis de conclusões e uma de
recomendações.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.as
Deputadas: Trata-se do mais exaustivo trabalho de audição,
contraditório e recolha documental até hoje realizado na Assembleia da República sobre a política de
aquisições de equipamentos militares e regime de contrapartidas.
Este relatório abre transmitindo aos portugueses e às portuguesas o consenso que existe entre os
diferentes governos e partidos com assento parlamentar, sobre a necessidade imperiosa de aquisição e
modernização dos equipamentos militares.
Os chefes militares, ouvidos em Comissão, destacaram a gravidade da situação operacional no final da
década de 90 do século passado e que obrigou os diferentes responsáveis políticos a uma política de
reequipamento.
Tratava-se de garantir a segurança e defesa da Pátria, tratava-se de garantir a segurança do povo
português e de permitir a Portugal desempenhar as missões de paz e segurança, de assistência humanitária e
de cooperação técnico-militar que tanto prestigiam o nosso País. Todos os Deputados da Comissão
secundaram esta preocupação.