I SÉRIE — NÚMERO 18
42
Por isso, interessa-nos falar de futuro e deste Orçamento, voltando a dizer, Sr. Primeiro-Ministro, que
falamos de expetativas e de definições, e é sobre isso que busco o seu comentário.
Estamos hoje, e cada vez mais, seguros, vendo aquilo que se passa na Europa. Seguros, porque temos
regras claras, temos regras que temos de normalmente prosseguir, ao contrário de outros Estados que, por
vezes, acham que, também aí, o mundo é o mundo do irrealismo.
Recordo — isso já hoje aqui foi falado —, por exemplo, a atitude do Partido Socialista em relação ao
Estado francês e à postura que a França tem relativamente à política europeia, que teve entradas de leão e,
pelos vistos, saídas de sendeiro. Ou seja, começou por dizer que ia mudar o mundo, depois ia só mudar a
Europa, depois ia mudar a França, e acabou por mudar só o orçamento. E é essa a realidade que analisamos.
Aplausos do PSD e do PSD-PP.
Não é que não se possa dizer o mesmo dos italianos — a grande expectativa que os socialistas europeus
têm —, mas também ontem soubemos que os italianos tinham mudado as suas expetativas e, mais do que
isso, fizeram cortes relativamente ao seu orçamento.
Foi disso que se tratou em Espanha, foi disso que se tratou em França e foi disso que se tratou em Itália.
Aliás, ainda ontem soubemos que os franceses tiveram de cortar mais 3000 milhões no seu orçamento, isto
tudo dentro de uma política de expansão, de uma política social, de uma política de preocupação
relativamente ao que acontece, ou seja, uma política de atirar areia para os olhos dos eleitores, como este
Partido Socialista costuma e gosta de fazer.
Sr. Primeiro-Ministro, as questões que quero colocara são simples. Há profundos desafios na Europa, para
a qual contribuímos, e para os quais esperamos algum tipo de resposta.
Esperamos respostas, por exemplo, da nova Comissão Europeia, que tem algumas novas perspetivas que
podem ser úteis não só para o País mas para a Europa, nomeadamente em matéria de crescimento, de
emprego e do pacote de investimento que o novo presidente da Comissão Europeia já anunciou que quer
apresentar até ao final do ano e que hão de contribuir para o aumento da criação de novos empregos na
Europa.
Há desafios na Europa em relação aos quais nós também não podemos estar alheios, nomeadamente no
que se passa com a política de imigração. Não podemos continuar alheios ao que se passa, ou seja, à
chegada de 150 000 pessoas à procura de novas soluções e a Europa fechar-lhes a porta. Os Governos
europeus têm de olhar para esta matéria e, também aqui, temos de ter uma palavra a dizer.
Mas, mais do que isso, temos de aproveitar a janela de oportunidade que se abriu com o último Conselho
Europeu. Julgo que essa é uma matéria fundamental para o País, que este Orçamento do Estado tem de
consagrar em termos de desenvolvimento próximo e futuro, e que respeita à energia.
A energia foi elevada à prioridade razoável dentro do próximo quadro de decisão política europeia. Julgo
que isso é uma oportunidade para o País que, durante muitos anos, teve uma barreira nos Pirenéus que
impedia que Portugal pudesse também contribuir para a Europa e ganhar com esse esforço.
Por isso, é importante que possamos hoje refletir sobre essa matéria e saber, Sr. Primeiro-Ministro, se é
possível contarmos com este apoio, com este desenvolvimento para uma política mais relevante em termos
não só da participação portuguesa, não só da definição portuguesa, mas, acima de tudo, de um ganho
europeu relativamente a esta matéria.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o senhor veio aqui apresentar um
Orçamento que prossegue a crise, que em aspetos fundamentais a agrava, mas, com um discurso pré-
eleitoral, vem proclamar o fim da crise.
O que sucede é que o seu discurso não tem qualquer relação com o que se passa no País, não tem
qualquer relação com a situação que os portugueses vivem, com a realidade vivida no nosso País, nem tem
qualquer relação com o Orçamento que os senhores aqui propõem.