I SÉRIE — NÚMERO 21
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O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, na caminhada forçada que o Governo
leva para reduzir o Serviço Nacional de Saúde a serviços mínimos, uma das estratégias é a transferência para
fora do Estado da gestão e da prestação de cuidados de saúde.
Há o serviço nacional de Saúde das misericórdias, há o serviço nacional de saúde das PPP, há o serviço
nacional de saúde dos privados, há o serviço nacional de saúde dos particulares e há, finalmente, o Serviço
Nacional de Saúde (SNS) do Estado.
Este mosaico compromete a qualidade e o acesso aos cuidados de saúde e é por essa razão — porque, do
ponto de vista da racionalidade do funcionamento do SNS, isto é um erro crasso — que o Bloco de Esquerda
apresenta quatro propostas.
A primeira é para que não haja devolução dos hospitais às misericórdias; a segunda é para que a gestão
das PPP regresse ao domínio público; a terceira é para que a rede de cuidados continuados tenha também
unidades públicas; e, por último, uma proposta no sentido de que o SNS público possa garantir a formação
especializada de todos os estudantes das faculdades de medicina que terminem o seu curso e aí possam
concluir os seus internatos.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Segue-se a apreciação do artigo 150.º — Transição de saldos da ADSE, SAD e
ADM.
Para intervir, tem a palavra o Sr. Deputado Ivo Oliveira, do PS.
O Sr. Ivo Oliveira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, a ADSE passa a ser gerida pelo
Ministério da Saúde em vez de o ser pelo Ministério das Finanças. Isto é paradigmático das prioridades deste
Governo em relação à saúde: primeiro, a contabilidade, as cobranças coercivas, as taxas; depois, as pessoas,
o acesso, a saúde em concreto.
A ADSE passa a ser alimentada só pelos descontos dos funcionários públicos e pensionistas. Os serviços
e organismos públicos deixarão de efetuar descontos e as pessoas pagarão mais, tendo havido um aumento
de 133% em sete meses. E o Estado contribui cada vez menos.
Como referiu o Conselho Económico e Social, este é mais um exemplo de uma visão puramente financeira
e contabilística, que descura, em absoluto, aqueles que devem ser os objetivos a prosseguir, nomeadamente
garantir as funções sociais do Estado.
Falta uma verdadeira reforma da ADSE, que o Governo foi incapaz de fazer. Que a faça agora, fora da
discussão do Orçamento do Estado.
Este Governo está a descurar a ADSE e também o Serviço Nacional de Saúde.
Estamos ainda em período de dificuldades económicas. Há que parar de gerir a saúde como se fosse
serviços de finanças. As pessoas continuam a ser vistas apenas como números e como contribuintes. Há que
mudar de política com urgência, atender aos determinantes sociais de saúde, colocar o cidadão em primeiro
lugar e garantir o acesso à saúde para todos.
Tenham consciência de que a saúde em Portugal está hoje cada vez pior e cada vez mais longe de estar
saudável.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Passamos ao artigo 152.º — Pagamento das autarquias locais ao Serviço Nacional
de Saúde.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ângela Guerra.
A Sr.ª Ângela Guerra (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, este
Orçamento do Estado recupera e reforça em muitas das suas propostas, ao contrário do que afirma a
oposição, a autonomia do poder local.
Concretamente, e no que respeita ao artigo 152.º, verifica-se uma evolução muito positiva em relação ao
que, nesta matéria, vem sendo previsto em Orçamentos do Estado anteriores, pois, finalmente, é consagrado,