I SÉRIE — NÚMERO 23
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Bem pode Paulo Portas perguntar-se, com a naturalidade dos partidos do
arco «job for the boys» se é o Bloco ou se é uma imobiliária quem cria mais emprego. O País não tem dúvidas:
a maioria PSD/CDS é a recordista na destruição de emprego. E o País não está à venda. Não, não pode valer
tudo!
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados, não há nenhuma razão para descer a tributação das grandes empresas que não
seja a política do privilégio de uns poucos à custa da vida de todos. O mesmo privilégio que encontramos na
mais incompreensível proposta de alteração do Orçamento, uma proposta incentivada desde o primeiro
momento pelo Governo e apadrinhada pela nova direção do Partido Socialista: a subvenção vitalícia dos
antigos titulares de cargos públicos.
Num País onde os salários continuam cortados, a prioridade do PSD e do PS era devolver uma subvenção
para a qual ninguém descontou — vale a pena lembrar! É uma medida que nos diz quase tudo sobre as
prioridades e as agendas ao avesso dos partidos do bloco central.
Mas o debate dos privilégios teve, ao menos, um mérito: clarifica bem de que lado estamos e, Sr.as
e Srs.
Deputados, não estamos todos, claramente, do mesmo lado.
Aplausos do BE.
Não esquecemos a abstenção envergonhada do CDS e, sabendo o peso das palavras, repetimos o que
aqui aconteceu foi uma vergonha! Se o Bloco de Esquerda não tivesse denunciado esta vergonha, PS e PSD
teriam passado a reposição das subvenções aos Deputados entre os pingos da chuva, no mesmo momento
em que mantinham os cortes nas pensões de quem trabalhou e descontou toda uma vida. Este foi só mais um
caso.
Protestos da Deputada do PSD Conceição Bessa Ruão.
O IMI aumenta brutalmente para as famílias, mas as isenções mantêm-se para os fundos imobiliários dos
especuladores financeiros. O Bloco bateu-se contra mais este abuso, como se bateu pela impenhorabilidade
da habitação, que o PSD e o CDS chumbaram.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — O Bloco de Esquerda já tem líder ou não? Isso é que é importante
saber!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados, enquanto debatíamos este Orçamento, a
realidade revelou a crueldade desta lei: uma família pobre viu a sua casa penhorada por uma dívida fiscal
mínima e foi a solidariedade do País que a salvou. O Governo apenas a perseguiu, disposto a despejar a
família da sua casa e recusou mesmo mudar a lei para evitar casos futuros. É uma vergonha, Sr.as
e Srs.
Membros do Governo! É uma vergonha!
Sr.as
e Srs. Deputados, o legado destes quatro anos é o de uma direita que rasgou o compromisso mínimo
que juntou a sociedade durante mais de quatro décadas, ou seja, a ideia de que os serviços públicos
constituíam o suporte da democracia e da igualdade dos cidadãos, independentemente das suas posses
perante o Estado.
Onde a direita encontrou equidade e igualdade de oportunidades, não descansou enquanto não impôs a
seriação e a exclusão. Onde havia solidariedade, a direita não descansou enquanto não escancarou uma
hipótese de negócio. Onde havia uma rede do Estado que garantia a dignidade mínima, a direita não
descansou enquanto não a substituiu por uma visão caritativa e miserabilista.
É por isso que, não contente por ter transformado o combate às desigualdades e à pobreza num negócio
promovido e incentivado por dinheiros públicos, o PSD e o CDS ainda se lembraram da criação de um
perverso teto nas despesas sociais. O suporte ideológico para mais um corte nos suspeitos do costume é