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I SÉRIE — NÚMERO 24

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Conhecido pelo seu título de Marquês da Fronteira ou o "Marquês Vermelho", pela sua oposição ao Estado

Novo, Fernando de Mascarenhas era um homem generoso, culto e com um reconhecido sentido de humor,

que dizia de si próprio que era "um homem avidamente interessado na cultura", "monárquico por vocação e

republicano por convicção". Embora se considerasse um homem de esquerda, nunca minimizou a sua

condição de herdeiro de um dos maiores patrimónios associados à antiga nobreza, escrevendo até um sermão

para o seu sucessor, que intitulou Notas para uma Ética da Sobrevivência, onde resume o modo como achava

que se deve lidar com um estatuto e património como o seu: "Sê primeiro um homem e depois, só depois, mas

logo depois, um aristocrata."

Fernando Mascarenhas nasceu em Lisboa, a 15 de abril de 1947. Licenciado em Filosofia pela Faculdade

de Letras da Universidade de Lisboa, lecionou na Universidade de Évora durante oito anos.

Começou a interessar-se por política aos 16 anos, aquando das lutas estudantis de 1961, momento no qual

começa a contestar o regime opressivo em que vivia. No final dos anos 60 promove reuniões clandestinas e

conspirativas no Palácio Fronteira, nomeadamente para preparar a estratégia da oposição democrática, onde,

segundo conta numa entrevista, estavam presentes Jorge Sampaio, Vítor Reis, Vítor Wengorovius, Maria

Barroso e António Reis, entre outros.

Apesar da sua oposição ao regime, após o 25 de abril, tem consciência que a sua condição de grande

latifundiário lhe pode trazer alguns dissabores e parte primeiro para Marrocos e depois para Londres, sendo

um período que relata com lucidez e humor. "Eu vivi o 25 de Abril como homem de esquerda e como

administrador do património da casa. Não foi fácil mas fascinante. Quando em 1969 tomei as posições que

tomei contra o regime, eu já conhecia a Revolução Francesa e estava ciente de que, se houvesse uma

revolução, a minha cabeça também acabaria por rolar."

Não rolaram cabeças. Fernando Mascarenhas assistiu pacificamente a uma ocupação da Herdade da

Torre, que, segundo as suas palavras, acabara por ser uma ocupação "simbólica" e esperou que as "coisas

seguissem o seu curso normal" até à sua restituição 20 anos mais tarde.

Em 1989, Fernando Mascarenhas, sempre consciente que "os privilégios criam responsabilidades", cria a

Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, instituição de utilidade pública cuja vocação é o restauro e a

preservação do Palácio Fronteira e a promoção de atividades culturais, científicas e educativas com a

preocupação de partilhar com a comunidade o património que herdara.

Em 1994, foi condecorado com a Comenda da Ordem da Liberdade.

Sempre preocupado com o trabalho de divulgação cultural, Fernando de Mascarenhas dirigiu e apresentou

o programa Travessa do cotovelo, na RTP2, em 2000, tendo também colaborado com o Plano Nacional de

Leitura.

Como ele próprio afirmava, o sonho de Fernando Mascarenhas era "haver outras vidas com a memória da

que ficou para trás", pois "só o futuro justifica algum esforço. E o futuro ancorado no passado, o futuro que

toma o passado como referência a reinventar. O presente é para digerir com calma. Um dos grandes defeitos

da democracia é esta pressa, é o reino do curto prazo, e a curteza das vistas dos políticos produz efeitos

dramáticos na vida das nações."

A Assembleia da Republica, reunida em sessão plenária, presta o devido reconhecimento ao percurso de

cidadania de Fernando Mascarenhas ao longo de toda a sua vida, apresenta a toda a sua família e amigos as

suas sinceras condolências e junta-se a todos os que lamentam a perda de um incontestável símbolo da

cultura e democracia portuguesas.»

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto n.º 227/XII (4.ª) — De pesar pelo

falecimento de Fernando Mascarenhas (PS), que acabou de ser lido.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Passamos à leitura do segundo voto de pesar. Trata-se do voto n.º 228/XII (4.ª) — De pesar pelo

falecimento de Alberto Romão Madruga da Costa, antigo Presidente da Assembleia Legislativa e do Governo

Regional dos Açores (PSD).

Vai ler o voto o Sr. Secretário Deputado Pedro Alves.