I SÉRIE — NÚMERO 27
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participação e a presença dos farmacêuticos tem relevância. É pelas funções que desempenham na saúde,
em matérias tão sensíveis como a da área do medicamento, que, em nossa opinião, se deve ter em conta a
perspetiva dos farmacêuticos nas questões de ética e de bioética.
A intervenção dos profissionais de saúde, assim como o cumprimento e o respeito pelo respetivo código
deontológico, são muito importantes na garantia do direito à saúde com qualidade por parte dos utentes.
Os profissionais de saúde podem dar um enorme contributo para assegurar o acesso dos utentes aos
tratamentos mais adequados, face à sua patologia. Mesmo tendo em conta o contexto económico e social que
vivemos no nosso País, entendemos que há aspetos que não podem ser colocados em causa, como a saúde,
a dignidade e o bem-estar das pessoas, como hoje estão a ser, situação decorrente das políticas de
sucessivos governos e muito agravada pelo atual Governo e pela imposição das troicas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Isto é, não podemos aceitar, nem é ético que, a pretexto da crise e das
dificuldades, os utentes sejam privados de cuidados de saúde de que necessitam. Não podemos aceitar nem é
ético que não se trate os portugueses por questões economicistas. Não aceitamos nem é ético que se
considere que não se pode garantir tudo a todos, como alguns apregoam. Não aceitamos nem é ético que não
se faça tudo o que esteja ao nosso alcance para assegurar a saúde e a dignidade aos portugueses,
independentemente das suas condições económicas e sociais e da fase da sua vida.
Exige-se que se assegure a todas as pessoas o acesso aos melhores cuidados de saúde, eficazes, em
tempo útil e de qualidade.
É neste sentido que a intervenção dos profissionais de saúde assume uma grande importância, em defesa
do direito à saúde, consagrado na nossa Constituição, em defesa do Serviço Nacional de Saúde, universal e
geral.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João
Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Esta proposta é tão justificada que
quanto menos se disser sobre ela melhor.
É inteiramente justificado e razoável que a Ordem dos Farmacêuticos inclua o Conselho Nacional de Ética
para as Ciências da Vida.
Não é preciso dizer mais do que aquilo que já foi dito para fundamentar o voto favorável do Bloco de
Esquerda. Mas queria fazer dois comentários sobre isso.
É verdade que essa inclusão da Ordem dos Farmacêuticos, em qualquer contexto, em qualquer
circunstância, em qualquer momento, seja qual for o tempo, é inteiramente razoável. Mas no tempo que
vivemos é mais do que justificado, é inteiramente necessária, porque a Ordem dos Farmacêuticos será,
seguramente, uma voz que irá introduzir racionalidade na controvérsia, na tensão que existe — porque o
Governo não vai desistir dessa tentativa — entre racionalização e racionamento do medicamento.
Portanto, é com muito agrado que vemos a inclusão da Ordem dos Farmacêuticos no Conselho Nacional
de Ética para as Ciências da Vida, porque sabemos que o Governo e todos aqueles que fazem da austeridade
o centro da sua política não vão desistir de substituir o tratamento a que todos temos direito por doses de ética
e de moral servidas às colheres. E a Ordem dos Farmacêuticos pode ser muito importante nesse debate.
Um segundo e último comentário para dizer o seguinte: sempre me surpreendeu que os partidos
proponentes deste projeto de lei não tivessem convidado todos os outros grupos parlamentares a associarem-
se a esta iniciativa, uma vez que ela é inteiramente justificada e gera um consenso grande na Assembleia da
República.
Mas, depois de ouvir o Deputado Nuno Reis, percebi que este projeto de lei, assinado pelo PS, pelo PSD e
pelo CDS, é, aos olhos da maioria, mais uma tentativa de assédio e de namoro que a direita faz — e não deixa
de fazer — ao Partido Socialista. Agradeço ao Deputado Nuno Reis ter-nos explicado isso tão bem.