I SÉRIE — NÚMERO 41
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Na Lei de Programação Militar, como sói dizer-se, não são dois navios de patrulha oceânicos que fazem
uma mudança de política.
O Sr. Ministro da Defesa Nacional: — Isso é verdade!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Não fazem uma mudança de política e, portanto, o que lá está, quer em
termos de continuidade, quer para futuro, é absolutamente coerente e tributário do conceito estratégico, é para
servir de «carro de apoio» à NATO, aos objetivos da NATO e a outros tipos de intervenção internacional. É
para isso que está projetado o sistema de forças e, por isso, neste aspeto, não acompanhamos a Lei de
Programação Militar, independentemente de podermos votar uma ou outra capacidade. Os navios de patrulha
oceânicos, por exemplo, são reclamados por toda a gente. Toda a gente os defende por razões que têm a ver
com a proteção das águas territoriais, a defesa da natureza, com múltiplos aspetos. Portanto, com certeza,
queremos uma votação específica e positiva, favorável, aos navios de patrulha oceânicos, que são uma
espécie de coisa sebástica, um D. Sebastião de que andamos a falar há muitos anos em Portugal.
Mas aqui também se requer qualquer coisa. É que, ao contrário do passado, em que o Plenário da
Assembleia da República tinha a possibilidade de votar os projetos, atualmente, nesta proposta de lei, isso não
se verifica. Diz o Sr. Ministro que será visto em comissão, mas não sei o porquê da confidencialidade. Não há
nenhuma confidencialidade nesta matéria! Os representantes do povo português têm o direito de votar aqui,
no Hemiciclo, no Plenário da Assembleia da República, quais são as armas que o País compra e de fazer essa
votação como se fazia no passado — e não creio que fosse democracia direta. Aí poderemos destrinçar quais
são as armas que, na verdade, não compensam ao País e quais são aqueles equipamentos que podem ser
úteis para a defesa da natureza, para a proteção civil, para a prevenção do risco, para o apoio às populações,
porque esses, sim, com certeza, terão o nosso apoio.
Sobre a Lei de Programação Militar, é curioso — será apenas uma técnica legística —, o Ministro da
Defesa Nacional desaparece e é sempre referido o responsável da área da defesa… Não sei se a atual
maioria já tem uma ideia de fazer evadir a figura institucional do Ministro da Defesa ou de a fundir com
qualquer outra coisa, mas, seja como for, não me parece uma técnica legística muito adequada.
A Lei de Programação das Infraestruturas Militares não tem a importância política que tem a Lei de
Programação Militar, contudo há algumas observações a fazer, uma das quais tem a ver com todo o processo
imobiliário. É que a infraestrutura militar da Lei é basicamente um balcão de venda e de outras operações
imobiliárias, é para determinar o fluxo de vendas, de alienações imobiliárias das Forças Armadas. Creio que
isso passar a ser decidido por despacho interministerial, pelo responsável pela área da defesa e pela ministra
ou ministro das Finanças não é adequado e que uma decisão governamental seria mais adequada, mais
escrutinável e mais correta. Portanto, parece que é apenas para verificar uma agilização de procedimentos,
mas isso não auxilia, do ponto de vista do escrutínio político, do controlo e da fiscalização dos atos do
Governo.
Estamos em época em que, realmente, esses aspetos carecem de uma maior transparência, de uma maior
visibilidade e não devem ser, pura e simplesmente, resolvidos através de um despacho interministerial.
Sr. Ministro da Defesa Nacional, creio que teve aqui um momento de diatribe com pessoas que tiveram
glórias efémeras. Vê-se que vem, de algum modo, com azedume em relação a uns ou outros setores. Mas
creio que aquilo que temos de fazer na Assembleia da República, no Parlamento, não é discutir as glórias de
alguns chefes militares ou de alguns políticos atuais ou passados. Essa polémica, realmente, não nos
interessa; o que nos interessa é saber exatamente em que é que o Estado português, em cada quadriénio, vai
gastar 1000 milhões de euros. Estes 1000 milhões de euros são um enorme investimento na sociedade
portuguesa, que tem um enorme défice social e dificuldades de toda a ordem para fazer prevalecer os seus
serviços públicos. E 1000 milhões de euros em armamento, por quadriénio, é uma despesa que, realmente, a
sociedade não pode aceitar de ânimo leve.
Seja como for, há uma espécie de um presente ausente neste debate, que é toda a história dos
submarinos. Em tantas intervenções do chamado «arco institucional», do arco daquela que tem sido a política
conjunta dos partidos que têm passado pelo Governo, nenhuma falou acerca da história dos equipamentos.
Todos escamotearam aquelas que têm sido as compras militares e as dificuldades do País em relação a isso.