14 DE FEVEREIRO DE 2015
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É que este debate teve lugar findos quatro anos francamente desoladores do ponto de vista das políticas
de descentralização, já para não falar das outras.
Foram quatro anos marcados pela sucessiva subtração de competências em áreas como a gestão da água
e em matéria de licenciamento, em que a presença das autarquias era fundamental, aliás, até mesmo para
eliminar 1169 freguesias, em que muitas das quais eram, através do seu presidente, a última presença do
Estado no território.
Foram quatro anos em que várias direções regionais foram encerradas ou esvaziadas de poder.
Este debate teve lugar sem que existissem provas de algum estudo ou debate sobre modelos de
competências, financiamento e transferências de recursos, bem como de novas perspetivas de organização do
Estado trazidas pelo debate constitucional, como havia sido asseverado à Assembleia da República e ao País
no programa do Governo.
Este debate teve lugar a pouco mais de seis meses das eleições, quando o Governo se encontra assaz
limitado na sua capacidade de celebração de contratos de parceria público-público, o cerne do diploma tão
proclamado, ainda assim, muito longe dos grandes desígnios constantes do programa do Governo, que viu
ontem a luz do dia, enquanto pilar de uma agenda pretensamente reformista.
Lamento dizê-lo, mas chegámos ao final do debate de hoje com uma certeza: o falhanço absoluto do atual
Governo no domínio da descentralização. Poder-se-á mesmo dizer que há certas pessoas a quem o fracasso
sobe à cabeça e receio bem, Sr. Ministro, que seja o seu caso. E a prova provada é o Power Point que acabou
de nos apresentar.
Protestos do PSD.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, a descentralização é a pedra angular da reforma do Estado e, por
isso, exige-se uma fundamentação clara e precisa. Daí o PS apresentar, nesta Assembleia da República, um
projeto de resolução para confrontar o diploma que agora nos foi referido com os estudos que lhe serviram de
suporte.
É por isso que, ao modelo de descentralização assistencialista de políticas públicas que o Governo quer
empreender, de forma avulsa, descoordenada e em guerra aberta com os principais destinatários, os
municípios e as freguesias, o Partido Socialista contrapõe um quadro de verdadeiras políticas de
descentralização, indutoras de desenvolvimento económico, social e ambiental, porque assentes num modelo
de base territorial e em mudanças estruturais na governação da coisa pública, e em que as autarquias, a todos
os níveis, são consideradas iguais, como verdadeiros parceiros.
Como entendemos que a organização da administração do Estado e das políticas públicas deve assentar
num modelo de base territorial, outra coisa não seria, aliás, possível.
Trata-se de um modelo que, prevendo a contratualização de poderes, envolva, sobretudo, a previsão
reforçada de poderes às autarquias em observância pelos princípios da universidade e da equidade e pelas
exigências de unidade e de eficácia da ação administrativa.
Não teria andado mal o Governo se tivesse ido colher inspiração ao que foi feito em Lisboa, mas não foi
essa a sua opção.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, não é de todo razoável anunciar reformas desta forma e muito
menos encetar qualquer alteração estrutural na governação pública, embora este diploma esteja muito longe
de o conseguir.
Só um novo governo será capaz de proceder ao desenho de esquemas de exercícios partilhados de
competências, através da delegação de competências com uma densidade normativa mínima que permita a
promoção de um equilíbrio eficiente na articulação de poderes do ponto de vista da igualdade e da garantia da
não discriminação.
É isto que se exige num Estado de direito democrático. É isto que as nossas autarquias merecem. É isto
que os nossos cidadãos exigem.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Emília Santos.