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I SÉRIE — NÚMERO 68

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modesto face a esta almofada; mesmo que tirássemos a estes 17 000 milhões 1500 milhões de euros para

pagar o que foi retirado à economia e às pessoas, a almofada financeira ainda ficava acima dos 15 000

milhões de euros, tão acima dos valores que discutimos aqui no Parlamento —, se esse dinheiro fosse

devolvido às pessoas a quem foi tirado, a economia poderia crescer 2% e o impacto no défice seria só de

décimas.

Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, porque eu não percebo e porque também deve ser muito difícil para

qualquer pessoa neste País perceber, explique-nos por que é que um bocadinho pequenino dessa almofada

não pode servir para pagar o que o Sr. Primeiro-Ministro deve, em sobretaxa de IRS, em salários e em

pensões, a quem trabalha e trabalhou neste País.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, a Sr.ª Deputada coloca a questão de tal forma que a

conclusão natural a tirar seria: isso só acontece por pura maldade; isso é maldade; o Governo tem por missão

fazer a pior das maldades aos cidadãos e, portanto, conserva meios que têm um certo custo apenas para

poder provocar a irritação dos portugueses e o gáudio da oposição quando questiona o Governo; é o Governo

que tem um certo prazer nisso!

Não sei se esta resposta irónica lhe serviria, mas não seria esta a resposta que eu gostaria de dar à Sr.ª

Deputada.

A resposta que gostaria de lhe dar é outra: os portugueses, hoje, sabem muito bem qual é o custo da

imprudência e sabem também muito bem não apenas qual é o custo de não ter reservas para fazer face às

circunstâncias do financiamento ocasional, mas, sobretudo, de não ter credibilidade para obter financiamento.

Se o Governo fizesse aquilo que a Sr.ª Deputada tem sugerido ao longo destes anos, e que deixou

novamente implícito na sua questão, o que se passaria era que os juros da dívida pública e as condições de

financiamento da dívida pública portuguesa, e da República, portanto, não seriam aqueles que permitiram a

acumulação destas reservas, o pagamento antecipado ao Fundo Monetário Internacional e por aí fora. Seria

exatamente o contrário, seria aquilo por que, infelizmente, a Grécia está a passar outra vez. Isso, Sr.ª

Deputada, eu não quero e não percebo como é que a Sr.ª Deputada pode desejar para o seu próprio País.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, repare que eu não lhe disse para

não ter uma almofada. O que eu lhe disse foi que com uma pequena parte fazia a economia crescer e devolvia

o que deve a quem trabalha e trabalhou neste País. É disso que estamos a falar: de pagar dívidas, as dívidas

para com quem constrói este País. E o Sr. Primeiro-Ministro tem de as pagar.

Sr. Primeiro-Ministro, é muito difícil compreender a sua explicação quando, ainda por cima, vemos o que se

passa, por exemplo, com o BES e com o Novo Banco.

Lembramo-nos de o Sr. Primeiro-Ministro ter dito, no verão passado, quase em comício de propaganda,

que não iria um tostão público para o BES. Sabemos que isso não é verdade — só no Fundo de Resolução

estão 3900 milhões de euros! E, agora, o Sr. Primeiro-Ministro, que está tão preocupado com o futuro, tem,

ainda por cima, uma promessa de crédito fiscal a quem comprar o Novo Banco de quase 3000 milhões de

euros, quase o dobro do que é preciso para repor a sobretaxa do IRS, as pensões e os salários que foram

cortados. Para isso não tem 1500 milhões de euros, mas para créditos fiscais futuros, ou seja, borlas fiscais,

que o Novo Banco não vai pagar e, por isso, vamos pagar todos os que trabalham e trabalharam neste País,

para isso já há o dobro: 2865 milhões de euros.

Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, explique-me outra vez, para ver se eu percebo e se o País percebe, como é

que é possível um País de cofres cheios não ter 1500 milhões de euros para devolver, em sobretaxa de IRS,