I SÉRIE — NÚMERO 68
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Estamos a falar de emprego. Estamos a falar de produção nacional, Sr. Primeiro-Ministro. E qual é a
resposta que dá? Subscrever a proposta desta natureza, que, mais à frente, se vai verificar que terá efeitos
dramáticos e trágicos para a nossa economia, designadamente para este setor.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, não temos para dizer aos
produtores uma coisa diferente do que dissemos ao longo destes anos, desde que soubemos que estava
programado o fim desta proteção, destas quotas.
Batemo-nos, em termos da união europeia, para conseguir que elas pudessem perdurar,…
O Sr. Altino Bessa (CDS-PP): — É verdade!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … isto é, que pudessem, durante mais tempo, favorecer outras oportunidades
de investimento e de competitividade para os produtores portugueses, mas sabemos, há vários anos, que este
dia haveria de chegar e não podemos estar na União Europeia com duas caras, isto é, aceitando tudo o que
ela tem de bom para nós, mas rejeitando qualquer coisa que possa não favorecer este ou outro setor.
Portanto, Sr. Deputado, é muito simples: temos vindo a preparar-nos, e os produtores portugueses
também, para este dia.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, acho que foi uma espantosa
expressão, afinal, da sua preocupação em relação ao emprego e a Portugal, em relação aos nossos défices,
designadamente ao défice alimentar, a forma acrítica como se colocou perante uma União Europeia que
decide ameaçar de morte um setor, considerando que, enfim, temos de «gramar» porque a União Europeia
decidiu.
Esse é que é o problema: é que, muitas vezes, falta brio patriótico para defender os nossos interesses
nacionais, designadamente na União Europeia.
Aplausos do PCP.
Sr. Primeiro-Ministro, coloco uma última questão. O Sr. Primeiro-Ministro, na semana passada, no Japão, e
ontem cá, anunciou que Portugal vai ser uma das nações mais competitivas do mundo, declaração que alguns
poderão entender como uma espécie de «presunção e água benta…», como se não soubéssemos o que quer
significar e o que tem por detrás.
Mas o que é que o Governo está a pensar fazer para garantir tal afirmação? É que a afirmação vale por si,
mas não justifica coisa nenhuma. É desenvolver a nossa capacidade científica, quando vemos este Governo a
empurrar milhares de cientistas portugueses para o estrangeiro, pondo em causa a renovação e o
alargamento da infraestrutura humana, técnica e científica, elemento fundamental da produção? É o
investimento na ciência e na educação, que estão sujeitos a cortes e mais cortes? É o desenvolvimento
tecnológico, quando toda a política está orientada para encerrar unidades de investigação, para a destruição
de laboratórios nacionais e outras infraestruturas públicas de investigação e desenvolvimento? É melhorando
o contexto favorável à produção do conjunto das atividades económicas, ou seja, reduzirem-se os altos preços
da energia, dos combustíveis, dos transportes, do preço do dinheiro? Não!
Não o disse, mas pensa é na continuação da transferência massiva dos rendimentos do trabalho para os
grandes grupos económicos e financeiros, como tem vindo a fazer, designadamente com os cortes nos
salários e com as alterações à legislação laboral. São estas políticas de desvalorização da força do trabalho