2 DE ABRIL DE 2015
17
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, queria dizer-lhe que não ocultamos factos que são maus para o País,
porque não temos aquela visão que a oposição tem de que «aquilo que é bom para o Governo é mau para
nós, oposição», ou de que aquilo que poderá ser menos bom para a oposição é bom para nós, se for mau
para o País. Gostamos de analisar todos os factos. E, de então para cá, desde o último debate quinzenal, o
desemprego, é verdade, não desceu como nós gostaríamos.
Mas é ou não verdade — e isto ainda não ouvi aqui, hoje — que o Banco de Portugal reviu as suas
previsões sobre o crescimento, melhorando as previsões que tinha anteriormente? É ou não verdade que o
Conselho de Finanças Públicas admite um crescimento acima de 2% a partir de 2016, sem mais medidas?
Repito, sem mais medidas!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que bela fonte!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — E, há pouco, mesmo a OCDE, tantas vezes citada quando a
oposição fazia críticas a este Governo e hoje já ninguém fala da OCDE.
No que se refere ao défice, cumprimos. Tivemos um défice que chegou a ser défice real de 11,2%, herdado
do Governo socialista, hoje cumprimos e é claro que iremos cumprir a meta.
Isto, Sr. Primeiro-Ministro, tem também a ver com a credibilidade internacional de que gozamos. Já reparou
que hoje também ninguém fala no Sr. Mario Draghi?
É que o Sr. Mario Draghi, há uma semana, veio desmentir toda uma narrativa de certa oposição, até com
alguma injustiça, com alguma ingratidão para a oposição portuguesa, que fazia do Sr. Mario Draghi uma
espécie de Super-Draghi, de Super-Mario, pois tudo o que acontecia de bom em Portugal e na Europa era por
causa do Sr. Mario Draghi. Agora, vamos ver uma interpretação autêntica e vemos o Sr. Mario Draghi
desmentindo, desautorizando, dizendo que Portugal está a aproveitar totalmente os benefícios das políticas
dos últimos anos.
Sr. Primeiro-Ministro, talvez isto justifique, como foi aqui citado, que a confiança das famílias hoje esteja ao
nível de 2002, de há 13 anos e que a confiança dos empresários, sobretudo na indústria e no comércio, tenha
subido, porque o País recuperou credibilidade internacional e, com isso, confiança internacional, e, com ela,
mais e maior investimento e, com isso, obviamente, confiança do ponto de vista também dos empresários e
das próprias famílias.
Por isso, queria dizer-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que se o País recuou 15 anos foi quando, há quatro anos,
mais coisa, menos coisa, o então Ministro Teixeira dos Santos foi renegociar o Memorando, que era, de facto,
em muitos casos, uma humilhação para uma das nações mais antigas da Europa.
E nesses 15 anos de que o Dr. António Costa fala, e é bom recordar, quem foi governo, Sr. Primeiro-
Ministro? Desses 15, em 13 anos o governo foi do Partido Socialista. Se calhar, é uma autocrítica da parte do
Dr. António Costa, mas não creio que tenha sido percebida pela bancada do Partido Socialista.
Obviamente que estamos cientes dos desafios, estamos cientes que é preciso recuperar ainda mais, é
preciso combater ainda mais esse flagelo social que é o desemprego, sobretudo o desemprego jovem, e para
isso é necessário aproveitar bem aquilo não só os fundos mas as obrigações que Portugal tem, ao nível
europeu.
O Sr. Primeiro-Ministro saberá, certamente, que Portugal tem de apresentar brevemente, na União
Europeia, um plano nacional de reformas, que é um plano complexo, com regras apertadas e que, sobretudo,
para que esse crescimento seja sustentado e seja sólido, requer, a nosso ver, estabilidade política, e por isso
é importante que haja um compromisso entre as várias forças partidárias para que ele seja duradouro e
estável.
É público que o Sr. Primeiro-Ministro, e bem, pediu contributos à sociedade civil e às forças partidárias
representadas na Assembleia da República para este plano.
A minha pergunta é precisamente esta, Sr. Primeiro-Ministro: qual é o ponto da situação que pode fazer em
relação a este plano, em relação àquilo que o Governo pensa mas, sobretudo, em relação aos contributos que
recebeu da parte da oposição? É que esses contributos são uma boa medida do sentido de Estado, do sentido
de responsabilidade e interesse nacional da oposição e isso também será importante para os portugueses
julgarem.