I SÉRIE — NÚMERO 78
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A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nestes quatros anos, o Governo procedeu
a profundas alterações no plano das autarquias, alterações que se inserem numa clara estratégia de
desmantelamento do poder local democrático, desrespeitando os seus princípios constitucionais.
Com as sucessivas alterações legislativas e também orçamentais ao nível do Orçamento do Estado, o
Governo impôs uma insuportável asfixia financeira às autarquias quer pelos cortes nas transferências do
Orçamento do Estado, quer pela redução da participação das autarquias nos impostos do Estado, impediu as
autarquias de contratar os trabalhadores necessários e obrigou à redução e fusão de serviços municipais com
consequências muito negativas nas autarquias e nas populações ao levar à redução da capacidade de
intervenção das autarquias na resolução dos problemas das respetivas populações e numa clara ingerência na
autonomia administrativa, financeira e técnica do poder local democrático, aliás, como, bem recentemente,
reafirmou o Congresso da Associação Nacional dos Municípios Portugueses.
Portanto, tratou-se de uma opção política e ideológica de ataque a um dos pilares do nosso regime
democrático, ao poder local democrático, à participação das populações, ao emprego público e aos serviços
públicos.
Perante a situação preocupante em que se encontram as autarquias, o PCP trouxe hoje à Assembleia da
República um projeto de lei que propõe um reforço dos meios das autarquias para desenvolverem
adequadamente o seu quadro de atribuições e competências.
Propomos: o reforço da participação das autarquias nos impostos do Estado em 25,3%, no cumprimento do
princípio constitucional da justa repartição dos recursos públicos entre a administração central e a
administração local; a manutenção das receitas das autarquias, dado que, face à situação para a qual o
Governo as empurrou, estas não podem prescindir dessas receitas; a participação do FAM (Fundo de Apoio
Municipal) deve ser exclusivamente da responsabilidade do Estado, evitando o agravamento da situação
económica e financeira a mais autarquias e, subsequentemente, a perda de mais receitas; os municípios em
situação de desequilíbrio devem poder recorrer a instrumentos de saneamento, reestruturando, se for caso
disso, planos de saneamento ou reequilíbrio que estejam em vigor que constituem um instrumento mais amplo
e não só no quadro do FAM, como hoje a lei estabelece.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: De uma assentada, o Governo traz hoje à Assembleia da República um
projeto que altera cinco regimes jurídicos, comprovando que legislar à pressa, como o Governo, o PSD e o
CDS imprimiram na Assembleia da República, não dá bom resultado. Esta proposta do Governo só evidencia
a forma arbitrária como tem legislado e como o Governo passa ao lado das questões decisivas que se
colocam ao poder local democrático, em especial ao regime de financiamento das autarquias locais.
Mais: à boleia de uma intenção de corrigir um erro, diga-se criado pelo Governo, este vem impor novas
atribuições e competências para as autarquias, pelo que o PCP não poderá acompanhar esta proposta.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar os projetos de lei do Bloco de Esquerda, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da
Igualdade, Sr. Secretário de Estado da Administração Local, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo apresenta
hoje uma proposta de alteração à Lei n.º 50/2012, lei do setor empresarial local, isto para simplificar a
linguagem e nos entendermos.
Sr. Secretário de Estado António Leitão Amaro, eu quase que diria que o Governo apresenta uma proposta
de lei que vem clarificar alguns aspetos e retificar outros aspetos desta lei, mas o Governo esquece-se daquilo
que é fundamental nesta lei e não corrige o que importa corrigir. Refiro-me, como é óbvio, à situação dos
trabalhadores e das trabalhadoras das empresas municipais.
Por isso mesmo, o Bloco de Esquerda volta a apresentar um projeto de lei como uma solução no sentido
de garantir os postos de trabalho de todos os que têm dado, em muitos casos, o seu melhor às empresas
municipais. O seu Governo, nas alterações à Lei n.º 50/2012, esquece-se daquilo que importa alterar, que é a
garantia absoluta de que os trabalhadores e as trabalhadoras das empresas municipais podem acreditar no
seu posto de trabalho.