29 DE MAIO DE 2015
9
Depois, mais recentemente, e utilizando a mesma fonte, o Sr. Ministro foi gabar-se lá fora de que as
reformas do mercado de trabalho — veja só, Sr. Ministro! — enfraqueceram a proteção dos trabalhadores em
despedimento individual e coletivo. O Sr. Ministro foi lá fora dizer: «venham para cá, porque despedir, em
Portugal, é mais fácil, mais barato e dá milhões».
E o Sr. Ministro também vai lá fora vender que os custos do trabalho diminuíram, em Portugal,
decresceram assustadoramente desde 2011. É esta a propaganda que faz lá fora, precisamente no sentido
inverso daquilo que nos disse hoje, com palavras que até parecem bonitas, ao referir que esta reforma está a
dar frutos à economia portuguesa. Pergunto: frutos para quem? Não será com certeza para os trabalhadores e
trabalhadoras no seu País.
Portanto, hoje, veio aqui fazer-nos uma aldrabice política. Veio dizer que as reformas iam no sentido certo,
eram criadoras de emprego, criadoras até de maior confiança, enaltecendo a concertação social, e, quando vai
lá fora, diz o contrário.
Mas, além desta primeira pergunta, e porque o Sr. Ministro também é Ministro da Segurança Social, não
posso deixar de lhe fazer uma outra. Já que ontem tivemos aqui a Sr.ª Ministra das Finanças, gostaria de ouvir
um comentário seu sobre a questão dos famosos 600 milhões de euros em cortes na segurança social. É que
a Sr.ª Ministra disse em vários sítios — e, como sabe, são reportagens oficiais de eventos oficiais na área do
PSD — que teria de cortar nas pensões. E, ontem, desdisse-o.
Ora, o Sr. Ministro é que é o «Ministro das pensões». Aliás, tem uma longa história que carrega nos
ombros, pois o senhor era do partido dos pensionistas. Chegado ao Governo, mudou de agulha, mas, já que
carrega essa história, diga lá, por favor, aos 3 milhões de pensionistas que podem estar descansados.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Rui Pedro Duarte.
O Sr. Rui Pedro Duarte (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, num debate sobre o combate à
precariedade, que se pretende seja sobre as condições dignas de trabalho, entre as quais os custos do
trabalho, esperávamos muito sinceramente que, na sua intervenção inicial — que foi, de resto, um belo
exercício de parkour retórico —, o Sr. Ministro pudesse ter tido a oportunidade de vir desdizer o Sr. Primeiro-
Primeiro sobre aquela famosa convicção, tornada pública há pouco tempo, de que a única reforma que faltou
fazer nesta legislatura foi a de baixar os custos do trabalho em Portugal.
É que, como é sabido e público, Sr. Ministro, é da praxe os ministros deste Governo desdizerem-se uns
aos outros e, desta vez, se o tivesse feito, seria até por uma boa razão.
Aplausos do PS.
Quero começar por um episódio feliz, que, como muitos romances, tem vindo a ter desfechos muito
infelizes, ou melhor, ainda não teve nenhum desfecho feliz, que é o da lei contra a precariedade, aprovada por
unanimidade neste Parlamento, e que determina especiais responsabilidades à ACT, nomeadamente no que à
aplicação do regime processual diz respeito.
Depois desta lei aprovada no Parlamento, o Sr. Ministro compreenderá que os portugueses, lá fora, lá em
casa, perguntarão quem é que garante a aplicação dela no mercado de trabalho. A lei responde: a Autoridade
para as Condições do Trabalho. O que é que faz o Governo? Corta nas condições da Autoridade para as
Condições do Trabalho para fazer o seu próprio trabalho: são menos 145 inspetores durantes estes últimos
quatro anos, menos 20%, ao serviço desta nova lei.
Sabemos que estamos em época de santos populares, mas o Sr. Ministro acredita que é por «obra do
espírito santo» que a Autoridade para as Condições do Trabalho vai fazer o seu trabalho se o Governo não
apostar nos recursos e não lhe conferir recursos?!
Sr. Ministro, em segundo lugar, quero deixar-lhe uma pergunta sobre o Garantia Jovem.
Começo por dizer que o Sr. Ministro tem feito muita propaganda a propósito do Garantia Jovem, mas a
verdade é que vamos tendo duas taxas oficiais de execução de colocação, de fixação dos estagiários nas
empresas: uma do IEFP, de cerca de 30%, e outra das palavras do Sr. Ministro, de cerca de 70%.